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Alegorias e revolução ditam ritmo cinematográfico de Detroit: Become Human

O estilo de jogo de Detroit: Become Human é particular. As ações são permeadas por escolhas, que levam os jogadores a destinos diferentes e novas opções. Tudo isso remete a ação no joystick a um segundo plano, que faz com que o título esteja mais próximo de um filme do que um jogo de ação.

É justamente com a variedade de escolhas e suas respectivas consequências que Detroit: Become Human se destaca. Qualquer atitude, ou falta dela, pode limar a longevidade da experiência com um dos protagonistas.

Com certeza Detroit é a melhor produção da Quantic Dream, que já explorou sistemas similares em Heavy Rain e Beyond: Two Souls, jogos que criaram uma fundação sólida para a aplicação do estilo de escolhas.

Meu Robô

A trama do jogo se passa em um futuro não muito distante, no ano de 2038, em que a empresa CyberLife desenvolveu androides caseiros, que podem desempenhar as mais diversas funções, desde limpeza, passando por manutenção da casa e até educação das crianças. Tudo é lindo e maravilhoso e, assim como na vida real, alguns cuidam dos seus robôs enquanto outros preferem escravizá-los.

Claro que o surgimento de máquinas inteligentes com aparência e capazes de fazer, sentir e perceber tudo ao seu redor como um ser humano gera um colapso, e isso se reflete na falta de emprego e isso instaura uma crise entre máquinas e homens. Alegorias claras são feitas a períodos do escravismo e abolição, como a separação do ônibus em que androides vão em um compartimento separado e toda a luta da raça android para se afirmar como um povo isolado.

Como cada gameplay revela histórias únicas escondidas nas tramas de cada um dos 3 personagens principais – Kara, Connor e Markus – é possível que algo possa ter passado em branco na história, mas o foco é claro na revolução dos androides para serem um povo livre, uma vez que adquirem consciência e sentimentos. Algumas lacunas que ficaram abertas foi como houve essa mudança para possibilitar essa conscientização e como os robôs viverão em sociedade, sendo que não morrem e nem reproduzem.

Aventuras fantásticas

Nos anos 80, foram publicados no Brasil livros da série Aventuras Fantásticas em que, ao final de certos eventos, o leitor deveria escolher para qual página seguir. Nada se assemelha mais ao estilo de Detroit que esse tipo de experiência, porém no caso do jogo, até não fazer nada resulta em alguma coisa. Embora o jogo sempre pressione de maneira que o jogador tenha alguma reação, existe a opção de não ter reação – com Kara, por exemplo, uma androide doméstica, agi como um robô e quando meu dono disse para não sair do lugar, fiquei imóvel e isso gerou resultados catastróficos e o fim da história para ela.

Não há certo ou errado, mas cada atitude gerará uma consequência, como no caso acima. Graças a um sistema de linha do tempo é possível entender aonde poderiam haver mudanças e, se quiser, rejogar aquela parte. Mais do que isso, essa timeline mostra grandeza de opções de Detroit, já que um simples sim ou não pode render um relacionamento e o futuro.

Polícia e ladrão

Como Kara saiu de cena logo no começo do jogo, os outros dois personagens se tornaram antagonistas. Markus, o android bonzinho que lidera a revolução, e Connor, programado para atuar como investigador de crimes ao lado dos humanos e que busca entender seu lugar como máquina.

Por diversas vezes o jogo pressiona a tomar atitudes extremas e se rebelar contra o sistema – eu busquei ser pacífico em minha causa com Markus e ao mesmo tempo ser racional com Connor, e no final, depois de tanto sacrifício, explodi uma bomba suja que tornou Detroit inabitável para os humanos, final que só 2% dos jogadores escolheu.

Mas aparentemente o jogo quer tiro, porrada e bomba. Há uma leve inclinação para atitudes agressivas, como por exemplo Markus ganhar reconhecimento da namorada ao utilizar medidas extremas. Manter-se na linha como máquina, com Connor, também passa a sensação de estar fazendo algo errado o tempo todo. Os humanos, por fim, também não colaboram nem um pouco para facilitar o pacifismo.

Quero um, e quero agora!

O grande trunfo de Detroit: Become Human é criar uma atmosfera profunda e que prende a atenção como um bom filme de ação. Desde o primeiro momento em que se liga o jogo, uma bela android faz as vezes de recepcionista, fazendo essa ponte com o mundo fantasioso do jogo. O jogador se sente parte daquilo que está acontecendo, como um bom filme de ação, mas por longas horas.

Os belos gráficos também ajudam nesse sentido, e cada detalhe do futuro fictício é delicioso, desde as revistas que falam de novas tecnologias e ascensão do BRICS como novas potências mundias, até a faixa de pedestres que brilha em verde e vermelho para atravessar as ruas. Na verdade são muitas inovações que tornam o mundo um lugar em que se deseja viver no futuro – exceto pela desvalorização das praias devido a alta dos oceanos.

Após desligar o jogo, não serão poucas as oportunidades em que o gamer irá pensar “como queria ter um android agora!”.

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