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Kingdom Hearts III impressiona sem tomar muitos riscos

Não importa quanto tempo passe desde que o primeiro Kingdom Hearts chegou aos consoles, a ideia de um crossover entre as mais amadas franquias da Disney, e a série Final Fantasy da Square Enix, continua sendo uma das mais absurdas e improváveis, porém, ela está aqui e 2019 provou que a franquia veio para ficar, com o lançamento de Kingdom Hearts III.

Mais de uma década depois da segunda entrada “numerada” da série, Kingdom Hearts III veio com a promessa de colocar um ponto final da saga iniciada com o primeiro jogo em 2002, focada no grande vilão Xehanort.

O game começa exatamente onde Kingdom Hearts 0.2 e Dream Drop Distance (jogos que fazem parte da última coletânea) o direcionaram: Sora parte em busca de seus poderes perdidos para poder auxiliar Riku e Mickey na missão de salvar os antigos portadores da keyblade.

A confusão que o último parágrafo pode ter causado é comum ao tentar explicar qualquer aspecto de Kingdom Hearts quando se fala de sua história, ou os games da franquia. São mais de dez entradas diferentes, espalhadas por diversas plataformas. Recentemente, a Square Enix trouxe todos os jogos da franquia para Playstation 4, em coletâneas remasterizadas com o objetivo de facilitar o acesso aos jogos, mas, isso não faz sua narrativa mais fácil de se acompanhar.

Kingdom Hearts III, como era de se esperar, traz ainda mais confusão para o pacote, já que sua narrativa continua tão desnecessariamente complicada quanto de seus antecessores. O grande número de personagens e plots exploradas vêm em forma de avalanche em cima do jogador, fator que sozinho já poderia desanimar qualquer um que não fosse fã fervoroso da franquia, porém, cutscenes extremamente longas, diálogos absurdos, quase que risíveis e horas e horas de exposição, transformam o ritmo do jogo em suas primeiras horas monótono e cansativo, já que tudo isso parece não chegar a lugar algum.

Durante suas primeiras vinte horas, a história de Kingdom Hearts III – acumulando todos os acontecimentos que os fãs esperaram tantos anos para testemunhar em suas horas finais – age quase como se o jogo não tivesse um ponto médio, contando apenas com um “começo e um fim”.

Mesmo com o ritmo sofrido, Kingdom Hearts III ainda é um game que surpreende em determinados aspectos, principalmente em seus visuais. KH III é sem dúvidas um dos jogos mais bonitos da geração. Os mundos da Disney e os cenários são os verdadeiros protagonistas por aqui, cada um tendo uma escala maior do que nos jogos anteriores, e representando seus personagens e histórias de maneira encantadora.

Seja durante cutscenes ou partes jogáveis, tudo se destaca por conta dos gráficos incríveis e o cuidado em diversificar cada um dos mundos com suas próprias texturas e estilo de arte. Por exemplo, o mundo de Toy Story apresenta texturas e paletas de cores que passam a impressão de que estamos realmente no quarto de Andy durante uma cena do filme. Tudo é colorido e cartunesco, como um bom trabalho da Pixar. Já no mundo de Piratas do Caribe, os visuais realistas próximos ao filme live action são impressionantes. Os atores, apesar de não serem dublados por eles mesmos, estão quase idênticos. Já Sora, Donald e Pateta, mantêm seu visual cartoon, mas, com detalhes mais “realistas”, como por exemplo, as roupas de Sora parecem ser reais e Donald tem suas penas extremamente detalhadas.

Não apenas o departamento visual traz variedade em cada mundo, diversos mini games e mecânicas exclusivas são introduzidas em cada um deles, fazendo com que se tornem ainda mais únicos. Porém, mesmo com esses pequenos elementos, o tempo para aproveitar cada um desses mundos é extremamente limitado, com aproximadamente duas horas de duração cada, contando apenas com sua história principal e alguns itens para coletar.

Por conta dessa falta de aproveitamento, os cenários, personagens e elementos desses mundos parecem totalmente inexplorados e extremamente curtos.

Quando falamos de mecânicas, os fãs mais antigos da série devem imaginar todas as possibilidades de combos com a keyblade, assim como os pulos normais, pulo alto, pulo duplo, o famoso glide, que permite que o personagem sobrevoe um pedaço do mapa ao melhor estilo Peter Pan e as summons, antes limitadas a alguns personagens da Disney. Mas em KH III, encontramos uma variedade maior nesse ponto. As mecânicas de combate deixam de ser apenas combos, já que cada uma das keyblades que o jogador adquire no decorrer do jogo tem variações com mudanças nos tipos de ataque, que vão desde keyblades que se transformam em escudo e depois em uma biga, e armas que atiram mel e depois viram uma bazuca.

Outra mecânica inserida no título é a das atrações da Disney. Em determinados confrontos, alguns inimigos irão aparecer com um círculo verde a sua volta, e assim que o jogador causar dano poderá invocar uma das atrações. Apesar de todas elas serem incríveis visualmente, após algum tempo acabam se tornando cansativas, já que aparecem com grande frequência, e como costumam ter longas cutscenes envolvidas, podem se tornar enjoativas. As summons, ou links, como são chamadas no jogo, trazem personagens extras ao ataque juntamente com Sora. Apesar de visualmente bonitas e bem elaboradas dentro do contexto de cada um dos personagens e seus filmes, elas também acabam perdendo espaço novamente por conta das longas animações que acabam por estender o tempo da batalha desnecessariamente.

Os mini games, presentes em todos os jogos da franquia também fazem presença em KH III. O destaque fica para os jogos estilo game and watch que o jogador encontra durante o decorrer do game. São vários mini games em estilo retrô, que, apesar de divertidos, cansam rapidamente devido a repetição.

No mundo do Ursinho Pooh e seus amigos, o jogador ainda vai encontrar mini games, porém, nada comparado com os de KH II por exemplo, onde existiam vários tipos de jogos. Em KH III, são três mini games, mas todos iguais, mudando apenas o objetivo entre cada um deles.

Além de explorar os mundos dos filmes da Disney, o jogo traz mais uma vez as viagens de Gummi Ship, a nave espacial de Sora, Donald e Pateta. Esse foi um ponto extremamente positivo no jogo, já que em Kingdom Hearts III, esses segmentos receberam melhorias consideráveis. Além de explorar as galáxias, o jogador pode entrar em confrontos com Heartless de níveis diferentes, batalhar contra chefes gigantescos que não param de atirar por um segundo, procurar fragmentos de blueprints para criar novas naves e tirar fotos de constelações, que recompensam o jogador com naves exclusivas.

Outra mecânica divertida apresentada em KH III foi o modo fotografia. Cada personagem interage de forma diferente quando o jogador aponta a câmera para ele. Mas além de guardar seus momentos preferidos do jogo, as fotografias servem para um outro propósito: achar os Lucky Emblems espalhados pelos mundos e assim desbloquear o final secreto do jogo. São 90 Lucky Emblems no total, sendo que cada dificuldade do jogo requer uma quantidade específica deles para que o final secreto possa ser desbloqueado.

Após anos de espera, colocar as mãos em Kingdom Hearts III ainda parece surreal. O game que finalizou uma saga de quase 20 anos finalmente chegou. Mesmo com todas suas falhas de ritmo, histórias e repetição, o jogo oferece conteúdo o suficiente para agradar qualquer fã da série, porém, é difícil não sentir que após tanta espera, algo ainda está faltando para que o game seja tudo aquilo que foi sonhado.

Kingdom Hearts III está disponível para Playstation 4 e Xbox One.

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