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Life is Strange: Before The Storm tem um começo raso e acelerado

Life Is Strange foi um sucesso absoluto em 2015. No seu lançamento, causou cenhos franzidos de dúvidas, dado o fiasco que foi Remember Me, também cria da produtora francesa Dontnod. De uma recepção cautelosa, o game se projetou às alturas ao cair nas graças do público com sua originalidade, trilha sonora e temáticas sensíveis. Ganhou diversos prêmios, além de dezenas de outras indicações.

É à sombra desse sucesso estrondoso que a Deck Nine Games assumiu o risco de comandar um prequel da história original. O primeiro episódio de Life Is Strange: Before The Storm chegou ao Playstation 4, Xbox One e PC nesta última semana, com a difícil tarefa de fazer jus ao seu predecessor.

A história se passa três anos antes de Max Caulfield retornar à Arcadia Bay para estudar na Blackwell Academy. Desta vez jogamos na pele de Chloe, que ainda está penando para lidar com a morte do pai, ocorrida há dois anos, a falta de motivação para frequentar a escola, a ausência de Max, e o novo relacionamento de sua mãe com David Madsen, seu futuro padrasto. Nesse contexto solitário, ela acaba por conhecer Rachel Amber, a garota linda e popular da escola, que faz sua vida girar em 180°.

Algumas diferenças na jogabilidade eram obviamente esperadas, como a ausência de manipulação do tempo. Para balancear, somos apresentados a um novo recurso que combina perfeitamente com Chloe: o bate boca. Já que não podemos reviver um diálogo para que ele saia favorável, em Before The Storm comandamos Chloe em diversas discussões, onde você precisa usar os argumentos corretos dentro do tempo estabelecido para vencer.

Enquanto no jogo original acompanhávamos a pacata Max e suas músicas folk/indie, com Chloe observamos uma trilha mais pesada, e sua personalidade também se reflete nas análises feitas sobre as pessoas e situações, assim como nas possibilidades de respostas nos diálogos. No entanto, em determinados momentos, essa personalidade mais proeminente beira o infantilismo, chegando ao cúmulo de, logo no início do jogo, ela mostrar o dedo do meio para uma simples placa de “Não ultrapasse” que ela obviamente acabara de ultrapassar.  Esse caso em particular pode não ter sido exagero do roteiro – é bastante crível que Chloe faria isso de verdade. Mas alguns trechos da história parecem forçados ao extremo.

É compreensível o interesse que se desperta entre Chloe e Rachel. Contudo, em apenas algumas horas juntas já existe algo improvavelmente tão intenso ao ponto de ocorrerem reflexões profundas no estilo “discussões de relacionamento” e declarações entre elas, sejam de amizade ou de realmente um sentimento amoroso. E poucas cenas de fato nos levam a acreditar que as duas já desenvolveram essa química toda. Na maioria do tempo, o jogo apenas te mostra que é assim e ponto. A falta de uma dinâmica equilibrada como era a de Max e Chloe, deixa o setting de Before the Storm um pouco cansativo, já que ambas as personagens principais – sendo impetuosas o tempo todo – e o ritmo corrido para formar essa relação, não dão um descanso para o jogador que tem que engolir toda aquela informação de maneira forçada.

Um ponto bastante divertido do jogo, embora um tanto aleatório, foi a partida de RPG com os “nerds” da Blackwell Academy. Os dois companheiros de jogatina da Chloe parecem ser personagens interessantes, e você acaba envolvido no jogo com os três. De fato, foi o momento em que Chloe agiu mais naturalmente no episódio inteiro, sem querer forçar a atitude revoltada, ou querer parecer legal para impressionar alguém.

A tradução em Português das legendas também deixa a desejar. Por vezes as frases parecem ter sido convertidas num tradutor automático, ou que o tradutor sabia apenas a teoria de como utilizar palavrões, mas nunca realmente aplicou-os na vida real. Muitas gírias e xingamentos não faziam sentido ou não soavam nem um pouco naturais.

Comparado com o início do Life Is Strange original, acompanhar o primeiro capítulo de Before The Storm é um tanto quanto cansativo. Enquanto no primeiro jogo, tínhamos um equilíbrio natural entre a temática adolescente e o sobrenatural, cultivando a curiosidade do espectador a respeito dos mistérios que constantemente iam se materializando desde o começo, BTS traz apenas uma história sobre personagens, que por conta do ritmo exagerado, falta de coesão na intensidade de seus personagens chaves e a falta de um “objetivo” ao jogador, falha ao criar um clímax aos próximos episódios.

Ainda não sabemos até que ponto da história será abordado nos dois episódios seguintes – temos três anos pela frente até o desaparecimento de Rachel. Mas sabemos que, entre erros e acertos, Before The Storm ainda tem espaço e tempo para melhorar.

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