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Chained Echoes tem potencial para homenagear grandes JRPGs

Chained Echoes se trata de um game de RPG concebido para ser uma ode aos grandes JRPGs da Square Enix. Além da influência declarada que o game tomaria para si desde o momento em que o jogo era apenas uma promessa, chamou também a atenção da comunidade a aposta do estúdio em uma apresentação em pixel art que remetia a era de ouro dos consoles 16-bits.

Chained Echoes

É claro que esse pacote de nostalgia e reverência encantou a comunidade gamer, mas sabemos que o resultado nesse tipo de campanha nem sempre acompanha a expectativa de quem financia o projeto. Portanto, nesta breve análise, vamos discorrer sobre os pontos positivos e negativos do game, a fim de definir se a expectativa da comunidade foi atendida em relação ao que foi prometido para o game.

Um mundo em guerra

Chained Echoes conta uma história épica de um continente inteiro que vive em guerra constante entre os seus três reinos. Ainda que o real motivo não seja colocado de maneira clara desde o princípio do game, o porquê dessa guerra centenária é presumível que seja por questões políticas, cobiça e a constante busca de poder dos monarcas que representam cada reino do mundo de Valandis.

Obviamente que o jogador se aprofunda na história dessa interminável guerra conforme avança na história, mas podemos adiantar, tomando os devidos cuidados para não estragar a experiência do jogador, que a parte mais interessante do enredo do game acaba por não ser sobre o que ocorre para eclodir a grande guerra em si, mas o papel de cada personagem do jogo em sua interminável busca de trazer algum alento para Valandis.

Chained Echoes

Como forma de contar a história, o estúdio usa a velha técnica de colocar o jogador logo de cara em uma situação futura, onde o gamer pode usufruir de todos os recursos mais fortes do jogo e de forma a criar uma expectativa do que o aguarda quando já estiver bem evoluído na aventura. Após esse preâmbulo, o jogador vai conhecer grupos de personagens que se aliarão a causa de libertar Valandis em uma aventura com muitas reviravoltas, missões secundárias, nostalgia e um charme único de um game que não apenas presta homenagens, mas cria a sua própria identidade no mundo dos jogos de RPG.

Gameplay

Jogadores calejados nos jogos da Square Enix, principalmente Chrono Trigger, não devem ter nenhuma dificuldade em se adaptar ao estilo de jogo de Chained Echoes, ainda que a equipe de desenvolvimento tenha feito algumas escolhas polêmicas que contribuíram bastante para dar uma identidade própria ao estilo de gameplay do jogo. Isso se dá pelo motivo da estrutura de gameplay ser bastante parecida com os clássicos RPGs dos anos 90, com batalhas em turnos onde cada personagem tem que aguardar sua vez para lançar magias de ataque ou suporte, golpes com lanças ou espadas e administrar sua barra de HP (vida) e de TP (Tech Points) durante uma mesma batalha.

Os encontros com inimigos não são aleatórios e o jogador consegue ver cada um deles e decidir se quer partir para a batalha ou não, ao menos na maioria das vezes, pois algumas batalhas são engatilhadas de forma automática quando se chega em locais chave das fases.

Durante as batalhas, a principal novidade é a inclusão de uma barra de fluxo de combate. Essa barra se completa aos poucos, de acordo com as ações do jogador e, seja desferindo um golpe normal ou uma magia, a tendência é de que a barra aumente até que o grupo atinja um estado de Overdrive. Nesse estado, todos as habilidades e estatísticas de sua trupe se tornam ainda mais poderosas, de forma a facilitar a luta. Entretanto, cada ação do jogador continua a contribuir para que essa barra de fluxo continue aumentando, até que se alcance o estado de Overheat.

O estado de Overheat é justamente o oposto do Overdrive. Nele, o jogador tem todas as habilidades e estatísticas severamente reduzidas, fazendo da sua equipe um alvo fácil para ser dizimada até mesmo por um único golpe inimigo.

Como já informado, atacar de qualquer forma aumenta a barra de fluxo de batalha, porém existem maneiras de diminuir essa barra a fim de que o jogador fique sempre dentro do limite Overheat e tenha mais chances de sobreviver às lutas. Defender, trocar personagens de sua equipe durante as batalhas, usar summons e desferir movimentos aleatórios marcados em amarelo são algumas ações que diminuem a barra de fluxo durante a peleja. Entretanto, a coisa é um pouco mais complicada do que parece, visto que o jogador vai ter que abrir mão várias vezes de um ataque promissor em prol de uma ação defensiva somente para manter a sua barra em Overdrive.

Dentre as decisões controversas de gameplay, estão o sistema de níveis que não usam experiência para melhorar os personagens e o sistema de HP e TP, ambos com modificações profundas em relação aos seus jogos inspiradores.

No caso do não uso da experiência para assim “upar” o personagem, a desenvolvedora do game preferiu um sistema que entregar ao jogador pontos que podem ser usados para desenvolver o seu personagem conforme se avança no game. Normalmente o jogador ganha esses pontos ao se derrotar chefes específicos durante a história do game, o que torna qualquer tentativa de “farmar” em meio ao jogo totalmente inútil.

A outra questão que também diferencia Chained Echoes dos outros jogos de RPG é o seu sistema de gerenciamento de HP e TP simplificado. Aqui o jogador não precisa se preocupar se levou muito dano durante um confronto ou se usou demais seus pontos de TP em uma magia mais forte, desde que saia vitorioso. Isso acontece porque, ao final de cada batalha, ambas as pontuações são regeneradas automaticamente.

Vale a pena?

Não há dúvidas de que Chained Echoes é uma bela homenagem aos RPGs tradicionais da era 16-bits. O game é muito belo em sua apresentação em pixel art, com cenários, NPCs e inimigos muito bem trabalhados em um estilo gráfico que esbanja nostalgia para quem o aproveita. A trilha sonora, ainda que não se destaque, é extremamente competente ao ponto de servir como um bom fator de imersão no calor da batalha ou mesmo nos acontecimentos acompanhados de climas de tristeza ou alegria. As batalhas são bem elaboradas e a barra de fluxo de batalha em conjunto com o sistema de administração de Overdrive e Overheat culminam por ser um excelente fator estratégico que dá um novo fôlego ao sistema de turnos que vem perdendo a força nos últimos games de RPG. Entretanto, existem alguns problemas que devem ser mencionados e que podem ter uma grande influência na decisão de compra do jogador.

O primeiro deles é que a narrativa sofre demais com a falta de personalidade e de empatia do jogador para com cada um dos personagens do game, e isso está diretamente ligado com a estrutura de gameplay. A questão é que, para o pleno funcionamento do sistema da barra de fluxo, é necessário que a equipe do jogador tenha o quanto antes o número máximo de participantes, de forma que seja possível trocar os jogadores durante o combate e “esfriar” o estado de Overheat. Desta forma, a única opção foi inserir vários personagens quase que simultaneamente, lançados à esmo e sem nenhum tempo para trabalhar a sua história adequadamente e cativar o jogador.

O outro problema foi a extirpação do sistema tradicional de experiência em detrimento de entregar pontos ao jogador conforme se avança na história. Desta maneira não existe nenhum motivo para o jogador desbravar qualquer batalha desnecessária, tirando todo o charme do “farm” dos RPGs tradicionais.

Por último temos o sistema de regeneração automático do HP e TP, que a princípio parece até ser uma decisão benéfica para o título. Entretanto, quanto mais o jogador avança no game, mais se percebe a falta que faz a ausência completa de planejar uma boa estratégia de economizar recursos e de temer o próximo combate de acordo com o resultado de sua última batalha, tornando tudo mais enfadonho do que deveria ser.

Mesmo levando em conta esses pormenores em potencial, é fato que Chained Echoes é um bom RPG imbuído de um potencial incrível a ponto de entregar horas de diversão aos fãs órfãos do tempo de ouro dos JRPGs da era 16-bits. Logo, caso você seja o tipo de jogador que sente um aperto no coração só de ouvir falar de Chrono Trigger, é bom correr e jogar Chained Echoes o quanto antes, porque ele é, de fato, uma boa homenagem a essa grande era dos videogames.

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