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Com acertos e erros, Sekiro: Shadows Die Twice renova a fórmula da From Software

Em 2009, com o lançamento de Demon’s Souls, a From Software introduziu no vocabulário da comunidade gamer o termo “Souls Like” (ou Soulsborne, como também é conhecido), que rapidamente se tornou sinônimo de desafio para aqueles que gostam de se arriscar em aventuras impiedosas e universos grandiosos.

Com outros grandes nomes como a série Dark Souls e Bloodborne, Hidetaka Miyazaki continua presenteando os fãs com novas experiências e universos, sem perder a alma (piada intencional) de suas criações, algo que é possível sentir com o mais novo “carrasco” do mundo dos games: Sekiro: Shadows Die Twice.

Sekiro: Shadows Die Twice, desenvolvido pela From Software e publicado pela Activision, foi lançado para Xbox One, Playstation 4 e PC no final de março, trazendo a conhecida fórmula de Miyazaki, mas introduzindo novos conceitos e mecânicas à mistura.

Sekiro conta com uma história estruturada e um protagonista, sendo esses dois fatores inéditos ao estilo de narrativa mais livre de seus “primos”. O jogador acompanhará a saga de Lobo, um shinobi com a missão de proteger o Herdeiro Divino, um garoto de uma linhagem especial com o poder da imortalidade. Porém, após falhar em sua missão e perder um de seus braços, Lobo é salvo pelo garoto, se tornando um imortal. Com o auxílio de novos aliados, o shinobi sai em uma jornada para recuperar o Herdeiro, que fora sequestrado posteriormente, e se redimir.

A história se passa no final da era Sengoku no Japão, mais especificamente nas envoltas do castelo de Ashina. E é com esse setting que lidamos durante a maior parte do jogo. Ao explorar o mapa, Lobo se utiliza de suas ferramentas shinobi, principalmente de seu gancho, item que estabelece a movimentação vertical do game, para poder se locomover pelos grandes portões e morros. Sekiro conta com outros cenários e locações de tirar o fôlego, porém, a maior parte do tempo, o jogador estará cercado por morros cobertos de neve e estruturas parecidas, tornando a vista um pouco repetitiva durante a jogatina.

Além da imortalidade e sua espada, Lobo conta com uma nova ferramenta: a prótese shinobi, um braço especial que conta com inúmeras ferramentas ninja que auxiliam o personagem em diversas situações, tanto ao explorar o cenário quanto em combate.

A dificuldade de Sekiro foi extremamente discutida por fãs das obras da From Software após o game ser revelado, já que desde o primeiro trailer o jogo mostrava seguir um caminho diferente dos outros Soulsborne. Mas, os fãs do “sofrimento” podem ficar tranquilos: Sekiro continua extremamente difícil e metódico como seus primos, podendo ser até mais desafiador em alguns aspectos.

Após ser morto em combate, Lobo pode reviver com a ajuda do poder de Herdeiro, porém, se utilizar desse poder pode prejudicar os personagens que o jogador conhece durante sua viagem: uma doença se espalha por Ashina caso esse poder seja abusado, o que torna a morte, algo normal e às vezes necessário nesses estilos de jogos, uma preocupação a mais durante a jornada.        

Sekiro adiciona diversas novas opções de mobilidade: um botão de pulo, a possibilidade de escalar muros e telhados (principalmente utilizando o gancho mencionado anteriormente) e correr livremente, já que a clássica barra de stamina não existe no game. Todas essas adições também são utilizadas durante o combate, acrescentando ainda mais elementos ao clássico “ataque, esquive e espere” estabelecido desde Demon’s Souls.

Durante o combate, Lobo precisa utilizar todas as habilidades citadas acima, além de se defender para poder ter alguma chance contra os imperdoáveis inimigos do game. Cada movimento do oponente exige alguma reação específica e imediata para que ele possa ser evitado ou refletido no momento certo. Sekiro introduz o sistema de postura, uma barra que aponta o quanto mais aquele personagem pode defender durante o combate. Se a barra do inimigo se “quebra”, é possível desferir um ataque poderoso, capaz até de finalizar um inimigo que ainda tem pontos de vida disponíveis.

Lobo também conta com sua própria barra de postura, que, ao se quebrar, deixa o personagem aberto por alguns segundos aos ataques dos inimigos, por isso é importante que o jogador saiba administrar o quanto ainda pode defender antes de recuar e se recuperar.

Outra adição muito bem-vinda à mistura é a possibilidade de se aproximar furtivamente de suas vítimas. Trazendo mecânicas de games como Tenchu, outra franquia no leque da From Software, Lobo pode usar o cenário e suas habilidades ninja para chegar por trás dos inimigos sem ser percebido e causar ataques letais, sem correr grandes riscos.Porém, é necessário ter ampla visualização de sua volta, já que outros oponentes podem te ouvir ou ver seus companheiros sendo eliminados.

Todas essas possíveis formas de se aproximar dos inimigos podem soar como facilitadores, porém, acabam potencializando a dificuldade do game de maneira exponencial. Cada inimigo tem em suas mangas diversos ataques e truques, obrigando o jogador a conhecer cada um desses movimentos para poder agir durante as situações de perigo, porém, da maneira metódica dos demais jogos da série. Um erro pode ser fatal,transformando até os encontros mais básicos em experiências frustrantes por conta dessa natureza.

O sistema de upgrades e o uso de ferramentas também apresentam algumas limitações em sua utilização. O jogo apresenta mais de três árvores específicas de habilidades. Algumas dessas habilidades são passivas e outras podem ser utilizadas diretamente no combate, mas é possível equipar apenas uma delas por vez. Por conta disso, pode haver hesitação em gastar pontos de experiência com esses movimentos, já que não é possível testá-los antes de adquiri-los.

O uso das ferramentas ninja também é limitada, já que cada vez que Lobo utiliza uma delas é necessário gastar um brasão espiritual. Esses brasões, mesmo após alguns upgrades, podem ser carregados em pequenas quantidades, transformando o que poderia ser uma mecânica divertida de se explorar, algo um pouco mais situacional.

Sekiro aproxima seus chefes de maneira diferente dos jogos anteriores, dividindo-os em duas categorias: sub-bosses e bosses. Os primeiros podem ser facilmente confundidos com inimigos normais, mas costumam ter duas barras de vida e golpes muito mais poderosos. Já os bosses são encontros que movem a história, mas existem em menor número do que em Dark Souls, por exemplo.

Um dos problemas com os bosses em Sekiro, principalmente na reta final do game, é que esses inimigos – que deveriam ser encontros marcantes – acabam não causando o efeito esperado, já que seguindo a temática histórica (mas obviamente com traços fantasiosos), estaremos enfrentando na grande maioria outros seres humanos com espadas e lanças. São poucos os bosses que causam impacto como, por exemplo, o primeiro encontro com a Fera Clerical em Bloodborne. Outro problema é a decisão de repetir vários desses oponentes durante o jogo.

Essa decisão de estender o game, repetindo os poucos bosses acaba tornando as últimas horas de Sekiro um tanto quanto frustrantes, porém, mesmo enfrentando o mesmo inimigo duas vezes, as diversas maneiras de se aproximar das situações e a evolução do jogador durante a jogatina, podem mudar completamente as batalhas.

Boa parte dos sub-bosses são completamente opcionais, mas derrotá-los recompensa os jogadores com alguns itens raros, sendo o mais importante um artefato específico capaz de aumentar a vida e a postura de Lobo quando quatro deles são coletados. Essa possibilidade de escolha pode ser benéfica próximo ao final repetitivo do jogo, mas, esses encontros acabam sendo importantes para a evolução do personagem.

Sekiro: Shadows Die Twice tem semelhanças suficientes com os demais jogos da From Software para ser considerado um Soulsborne, com o mesmo ritmo metódico e a dificuldade exasperante, porém, apresenta novidades e personalidade o bastante para se manter como algo próprio. Mesmo estando longe de ser perfeito, principalmente em sua reta final, Sekiro é a prova de que a caixa de ideias de Miyazaki e sua trupe está longe de se esgotar, nos deixando na expectativa para quais serão as novas direções adotadas para a série. O game já está disponível para Xbox One, Playstation 4 e PC.

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