Quando a Codemasters revelou que entregaria uma das suas franquias mais valiosas nas mãos de um recém criado estúdio, a Codemasters Cheshire, já era de se imaginar que grandes mudanças nos rumos da franquia estavam por vir. Logo, como já esperado, DIRT 5 realiza uma curva em cento e oitenta graus na franquia e acelera rumo ao que solidificou e tornou a série DIRT uma referência em diversão. Muita sujeira na pista, corridas caóticas no melhor estilo arcade e uma jogabilidade muito mais acessível é a proposta de DIRT 5, que estabelece um contraponto em relação às últimas tentativas da Codemasters que trilhavam caminhos mais sujeitos à simulação de corridas reais.
Grandes mudanças
Dotado de grandes talentos outrora responsáveis por franquias como OnRush, DriveClub e Motorstorm, o novo estúdio de Cheshire aposta tudo em sua nova engine gráfica para acelerar até o talo no sentido oposto ao gameplay que se aproximava bastante de uma realidade de corridas simuladas, tornando esse jogo quase uma antítese do que foi DIRT 4 e DIRT Rally, por exemplo.
Simplicidade e “direto ao ponto” podem ser as palavras que determinam o novo DNA proposto pela equipe de Cheshire para dar um novo fôlego à série. Com uma direção mais amigável, desafios diversificados, uma trilha sonora recheada de muito rock’n roll e com um desafio na medida certa, DIRT 5 pega o vácuo do grande sucesso do inesquecível DIRT 2 para trazer o que há de melhor das corridas arcades no meio de toda a lama que inunda os mais diversos circuitos ao redor dos dez países dispostos no game.
Muito além da lama, as diversificações de gameplay abrangem também circuitos que testam a perícia do jogador ao controlar seu veículo sob escorregadias camadas de gelo, asfalto, terra batida, pedregulhos e chega ao ápice de escalar uma montanha sobre quatro rodas. A partir daí, cabe ao jogador lutar contra oponentes que não têm a mínima intenção de jogar limpo para facilitar o seu caminho rumo ao pódio.
Fechou o tempo
Além da disparidade dos desafios próprios de cada circuito e a inteligência artificial agressiva dos oponentes que garantem um clima frenético às corridas de DIRT 5, o jogador vai ter que encarar também dificuldades imprevisíveis impostas pela própria natureza. Tal fato se dá pela implementação de mudanças climáticas em tempo real que influenciam totalmente na jogabilidade durante uma mesma corrida, aumentando consideravelmente o fator “imprevisibilidade” no que tange o resultado da mesma.
O destaque para o sistema climático do game fica por conta de que o mesmo vai muito além de uma simples garoa que faz com que a dificuldade de direção aumente com o deslizar dos pneus num ambiente molhado. Em DIRT 5 o jogador certamente se sentira surpreendido ao dominar uma corrida em terra batida até o momento em que uma grande tempestade mudar os rumos da corrida ao transformar rapidamente tudo em uma lama espessa capaz de cobrir por inteiro os pneus do carro. Em outros momentos, cenários paradisíacos darão lugar a tempestades de areia capazes de fazer com que até o mais belo dia se torne escuro como a noite, trazendo todo o terror de não ser capaz de enxergar curvas até que seja tarde demais para fazê-la de maneira que não se perca algumas posições.
Roda a roda
Quanto aos veículos de DIRT 5, podemos dizer que existe uma quantidade satisfatória, mesmo que eles sejam divididos essencialmente por categorias. Seguindo a mesma linha simplista e arcade proposta na jogabilidade do game, cada grupo de veículos só é liberado para o jogador de acordo com o tipo de desafio escolhido, algo bem natural e totalmente compreensível para evitar o desbalanceamento em meio a diversidade incrível de desafios. Sendo assim, veículos de rally dos anos 80 competem em sua categoria mista de terra com asfalto, assim como as pick-ups entram no lamaçal ou mesmo os esquisitos carros de Sprint projetados para fazer curva somente para um lado tem seus circuitos específicos e circulares para realizar as suas corridas.
Como é de se esperar, com suas raízes fundamentadas em um gameplay arcade puro, DIRT 5 não tem qualquer opção de alteração no desempenho dos seus veículos, cabendo ao jogador o papel de evoluir com o seu carro somente na estética. A partir daí, cabe ao jogador obter várias tonalidades de cores, adesivos de todos os tipos e até pinturas personalizadas para tirar uma onda contra os seus adversários.
Os elementos arcades ficam mais evidentes quando o jogador faz um comparativo lado a lado para escolher o veículo que mais se adapta à sua maneira de encarar o game. Aqui as informações mais importantes são destacadas em dois eixos: sua capacidade de velocidade e dirigibilidade.
Ambos os eixos, recebem notas em forma de letras de S até C, onde S é o nível mais alto e que rende mais e C o nível mais baixo, logo o mais deficiente entre todos. Dado este exemplo, fica muito claro que Dirt 5 é pensado como um jogo arcade, o que não significa que não haja um desafio à altura dos jogadores mais hardcores, pois alguns são realmente difíceis e empolgantes.
Pistas Incríveis
Os circuitos talvez sejam a parte mais interessante e que realmente dá vida ao gameplay um tanto peculiar de DIRT 5. Dotados de crassas variações que tem o objetivo óbvio de manter o envolvimento do jogador justamente nas incríveis alternâncias de gameplay, as provas cumprem com maestria a tarefa de não deixar o jogador entediado, corrida após corrida, com objetivos que vão bem mais além de simplesmente ser o mais rápido.
Viajando por dez países, sendo um deles o Brasil, o jogador vai ser testado em todos os seus extremos, ao pilotar carros únicos e em traçados projetados para tirar toda a habilidade arcade do gamer.
Voar sobre abismos depois de acelerar ao máximo descendo um tobogã com terreno acidentado enquanto o jogador “briga” com seus adversários, é só um exemplo do que aguarda os gamers que aceitam o desafio de DIRT 5.
Além dos traçados tradicionais, o jogador vai ter que encarar corridas em estacionamentos, pátios abertos cujo o principal objetivo é realizar as manobras mais insanas a fim de aumentar sua pontuação ao máximo até desafiar a gravidade em terrenos com ângulos muito próximos a noventa graus ao escalar montanhas com carros preparados como cabritos escaladores.
O Brasil chega com tudo em DIRT 5 colaborando com duas pistas, mais algumas variações, sendo uma delas denominada Floresta da Tijuca e outra que segue o caminho do Cristo Redentor, em uma pista chamada no game de “Redeemer”. Contudo, é importante frisar que o game cai no já batido estereótipo do Brasil como é conhecido internacionalmente.
Na pista da Floresta da Tijuca, por exemplo, toda a área retrata um percurso que compreende uma disputa em que o jogador deve subir um morro em meio a uma floresta. Neste morro, parte do cenário é dividido com uma plantação de bananeiras e a outra parte, uma favela. Claro que sem esquecer a belíssima imagem do Cristo ao fundo.
Em vários momentos de jogatina, fica muito claro que só não se vê macacos cruzando o cenário devido às deficiências gráficas do jogo, que no modo performance, por exemplo, elimina a presença de torcedores. Se este tipo de detalhe incomoda, melhor optar pelo modo gráfico, ao custo das taxas de quadros.
Polêmicas à parte, não há como negar que DIRT 5 entrega um game bastante sólido no que diz respeito à quantidade de percursos. Com mais de setenta pistas e variações de percursos ao longo de dez países com clima e culturas diferentes, pode-se afirmar com tranquilidade que a equipe de desenvolvimento fez um trabalho de respeito.
E começa a corrida
Dirt apresenta os clássicos modos de jogo que qualquer grande game de corrida que se preze deve ter. O principal deles, o modo Carreira, para se divertir sozinho em corridas por todas as pistas. Destacam-se também o modo Online, para desafiar seus amigos de qualquer lugar do mundo, e um modo especial onde o jogador cria e compartilha seus traçados com toda a comunidade DIRT.
O modo Carreira é a porta de entrada para os aventureiros de DIRT. É nesse modo que o jogo apresenta mais de uma centena de desafios divididos por capítulos, cada um deles representados por cores.
O jogador vai liberando os desafios subsequentes horizontalmente de acordo com a fase escolhida, sendo que o próximo desafio só é liberado se ele estiver diretamente ligado com o desafio que o jogador acabou de vencer.
Tal modelo de jogo é interessante pois favorece a escolha mediante os diversos estilos de gameplay apresentados pelo jogo, pois cada um deles segue uma sequencia lógica, sem se diferenciar demais de uma fase antecedente. É claro que os jogadores mais radicais vão querer se aventurar em todas as pistas do jogo e, nesse caso basta selecionar cada desafio verticalmente e ir liberando tudo pelo caminho.
Ao final de cada desafio, o jogador recebe algumas medalhas que variam em quantidade a depender do se desempenho. Ao final de cada capítulo o jogador deve apresentar um número mínimo de medalhas que o chancela a encarar o próximo e mais difícil desafio.
Fora desse emaranhado principal, o jogador ainda pode competir em desafios um contra um, que são liberados conforme se progride nos desafios principais do modo Carreira. Aqui a dificuldade é a de vencer um perito em um desafio específico para ver quem reina de verdade no mundo de DIRT 5.
Ainda que não exista, de fato, uma história a ser seguida no modo Carreira, DIRT 5 conta com o acompanhamento do Podcast by Donut, que conta algumas histórias de tempos em tempos adicionando mais profundidade ao mundo das corridas. Totalmente dublado em português por Wendel Bezerra (conhecido dublador do Goku, de Dragon Ball), o programa serve como uma espécie de guia para o jogador conhecer melhor os seus adversários, os desafios e ainda receber algumas dicas para se sagrar vitorioso em diversos desafios.
Playgrounds
Com um ar de rede social, o modo Playgrounds de DIRT 5 é o lugar onde o jogador vai usufruir, construir e compartilhar com toda a comunidade as suas criações. Aqui, as pistas mais insanas podem aparecer, pois tudo depende somente da criatividade da comunidade.
Dá pra dizer que, neste modo, o jogo se torna praticamente infinito, ao menos enquanto a comunidade se manter empenhada em criar circuitos criativos, curtir e incentivar a criação alheia de mais e mais corridas originais, todas com a autoria dos próprios fãs da série DIRT.
Com uma variedade insana de objetos, o modo Playground permite que a imaginação dos gamers aflore na criação de desafios únicos, que podem ser compartilhados e avaliado pelos demais jogadores do título. É claro que não é tão fácil como parece, mas com uma boa dose de dedicação, qualquer jogador pode criar circuitos incríveis!
Da Lama ao Caos
DIRT 5 é um jogo que aposta tudo na simplicidade, seja em sua jogabilidade arcade como nos seus modos de jogo que vão direto ao ponto, sem enrolação. No jogo, basta selecionar o desafio, o seu carro e mandar ver no acelerador, sem rodeios.
Seus gráficos não apresentam uma grande evolução ante os jogos os quais já estamos acostumar a lidar nesse fim de geração de consoles. Para os mais exigentes, problemas de Depth of Field, que traduzindo é o efeito que mostra os detalhes da pista somente a distâncias ridiculamente pequenas, no caso de Dirt 5, tendem a incomodar bastante. Em alguns casos mais extremos, uma poça de lama ou alguns pedregulhos aparecem do nada quando o veículo chega há um ou dois metros de onde o objeto deveria estar!
Existem também outros casos pontuais de problemas com artefatos que aparecem e piscam em meio aos cenários, mas, diferente dos problemas citados anteriormente, isso é algo que podemos crer que será consertado com algum patch futuro.
É importante salientar que outros recursos devem ter sido priorizados nos atuais consoles em fim de carreira, portanto é perfeitamente compreensível o corte de alguns recursos visuais. DIRT 5 também estará disponível na nova geração a partir do lançamento dos novos consoles.
A boa notícia é que, mesmo na primeira versão do PlayStation 4 (testada para esta análise), a Codemaster disponibilizou dois modos de jogo: Modo Gráfico em 30 fps e uma leve melhoria nos filtros e um Modo Performance em 60 fps. Assim o jogador tem a sua disposição dois modos para escolher o que melhor lhe agrada visualmente.
A trilha sonora é bastante competente e entrega trilhas bem condizentes com o clima caótico das corridas ao longo do game e, é claro, fechando com chave de ouro a boa resposta dos controles em cada uma das curvas enlameadas no melhor estilo arcade.
Dada a superioridade de acertos nesse novo rumo a qual a franquia se propôs tomar, em detrimento dos problemas que, em sua maioria acreditamos que seja devido às limitações técnicas do fim dessa geração de consoles, DIRT 5 se sobressai como um dos melhores jogos arcades desta geração. Estamos ansiosos para ver como irá se apresentar nos novos consoles!