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Início vacilante pune Forspoken

Desde que foi anunciado em meados de 2020, Forspoken já carregava o peso de representar em alto nível o legado de bons RPGs da Square Enix, empresa responsável por uns dos maiores jogos desse estilo no atual estado da indústria de videogames. Seguido de perto e com um certo frenesi por parte do público fã do estilo a cada dose homeopática compartilhada pelo seu time de desenvolvimento, Forspoken foi um game que sempre demonstrou estar passando por alguns problemas em suas etapas de desenvolvimento, o que culminou em alguns adiamentos, mas ainda assim a base de fãs de jogos RPGs da Square se manteve confiante em sua espera pelo aguardado mais novo título da gigante japonesa do entretenimento.

Forspoken

Com a chegada do ano de 2023, coube a Forspoken a missão de dar a largada nos grandes lançamentos do ano, provavelmente não da maneira como os fãs esperavam, pois o game nasceu no dia 24 de janeiro rodeado de críticas negativas e sob a sombra da desconfiança da base de fãs de RPGs de ação. Entretanto, nesta breve análise vamos discorrer sobre esse game da ótica de quem percorreu o caminho do início ao fim do jogo, de forma a esclarecer como o game evolui em suas mecânicas, assim como o seu personagem amadurece conforme se define em sua história, até se tornar um game com potencial para divertir boa parte dos jogadores que tanto esperaram pelo lançamento do game.

Alice no País das Maravilhas

Sob clara influência no conto de Alice no País das Maravilhas, Forspoken dá o seu tom de modernidade na obra de Lewis Carroll original de 1862 transportando o jogador diretamente para o nosso mundo atual, especificamente para o bairro de Hell’s Kitchen, em Nova Iorque nos Estados Unidos. Lá conhecemos Alfrey Holland – Frey para os íntimos – uma jovem estadunidense de 21 anos, órfã e com uma bela ficha na polícia por uma série de contravenções.

Quis o destino que, nesse ato derradeiro de contravenção, Frey recebesse uma segunda chance para pôr sua vida nos trilhos, visto que em seu julgamento a juíza se compadece por sua história de vida difícil e lhe dá um ultimato para que sua vida seja colocada nos trilhos definitivamente. Entretanto, logo após sua chance definitiva de redenção na vida, fantasmas do seu passado infrator voltam à tona, colocando Frey numa situação que põe sua grande chance de redenção em cheque. Solitária e no pior momento da sua triste história de vida, quis o destino que Frey se encontrasse com um misterioso bracelete mágico que a transporta para um mundo de fantasia e magia conhecido pelo nome de Athia.

Interessante em Forspoken é que todo esse prólogo do game já é entregue de forma jogável, entretanto talvez esse seja o seu maior demérito e certamente é o maior culpado pelo jogo ter um começo que pode ser considerado lento e entediante para uma boa parcela de jogadores. Não que a ideia do jogador poder experimentar o momento infortúnio de Frey seja ruim, mas a execução não parece ter sido ideal. Nessa parte, os controles são bem travados e até mesmo irresponsivos e a sua jogabilidade se resume em caminhar de um ponto A para um ponto B, verificar itens e ler algumas anotações que dão dicas sobre a história do game. Um verdadeiro tédio capaz de fazer com que alguns jogadores já encerrem sua experiência nessa primeira parte.

No momento em que Athia é apresentada ao jogador, a história começa a crescer e perder um pouco a sua imagem cliché construída no prólogo de Nova Iorque. Aqui Frey se depara com uma nova ameaça conhecida como corrupção, que transforma animais e seres humanos em criaturas terríveis.

Forspoken

De início, acredita-se que ao combater as magas sacerdotisas da região é o segredo para livrar Athia do mau e trazer, de alguma forma, Frey para o seu mundo real de Nova Iorque. Entretanto, conforme a história evolui, grandes surpresas são reveladas ao jogador de maneira a enriquecer a relação dos dois mundos do jogo, o mágico e o real, e tornar a missão de Frey muito mais excitante e um tanto original, algo bem diferente da sensação superficial de que se têm no início do game.

Do marasmo à magia

Ao contrário do que se possa imaginar ao ler essa análise até aqui, Forspoken não começa a brilhar quando o jogador alcança o ponto de controlar a postulante heroína Frey no mundo mágico de Athia. Entretanto, podemos dizer que o ponto de virada começa nesse momento.

Em relação à história, a narrativa ainda mantém o seu tom genérico mas com alguns questionamentos da heroína sobre a sua função nesse mundo e até mais interessada somente em retornar para o seu lar. Entretanto, plot twists vindouros – sim, mais de um – prontamente vão deixar a história muito mais interessante a partir do meio até o final do game.

No que tange a jogabilidade, é a partir daqui que o game avança em sua premissa de caminhar com dificuldade em Nova Iorque até chegar em um nível final repleto de parkour mágico e rápido regado com magias dotadas de efeitos visuais impressionantes, mas tudo em um ritmo bem lento e com elementos sendo adicionados pouco a pouco no game.

Cipal, primeira cidade do game e que acaba servindo de lugar seguro para Frey durante boa parte de sua aventura, é o lugar em que a provável heroína de Athia se relaciona com os locais em meio a uma aventura ou outra. É nessa cidade onde o jogador tem acesso às side-quests, que não são tão abundantes nesse game, mercados e pontos onde se pode melhorar equipamentos e vestimentas.

A princípio, Frey parte rumo ao desconhecido de Athia a fim de desafiar cada uma das Magas, conhecidas ali como Theias, em um combate que culmina no aprendizado de uma nova magia em cada êxito da heroína. E é partindo dessa premissa que o jogo dá um salto em sua jogabilidade, pois cada nova magia torna ainda mais gostoso controlar Frey e combater inimigos.

Em sua primeira missão, Frey já consegue utilizar o seu parkour mágico para se locomover bem mais rápido e escalar locais antes inimagináveis para um simples mortal, o que também funciona de maneira satisfatória para entregar um combate estruturado em se esquivar de golpes inimigos utilizando esse mesmo parkour, além de lançar sua única – até então – magia baseada no elemento da terra.

Em meio a batalhas contra os mais diversos inimigos, execução de tarefas de terreno como libertar pequenos vilarejos, explorar torres e encontrar baús com materiais que servem para melhorar seus equipamentos, Frey pode evoluir seu nível de personagem e liberar pontos de mana para expandir sua magia dentro de um mesmo elemento ou mesmo novos elementos que serão adquiridos ao longo da aventura.

O grande ponto de virada de Forspoken é justamente a aquisição de novos elementos de magia, que não serão detalhados aqui devido ao fato de haver um contexto na história para obtenção de cada elemento, e destrinchar isso poderia ser potencialmente frustrante para jogadores cujo propósito é saborear a história em sua totalidade, sem spoilers. No mais, é fácil afirmar que a jogabilidade de Forspoken melhora muito, principalmente quando Frey habilita o segundo elemento mágico, dando um salto nos elementos consecutivos, que é onde fica mais fácil o jogador explorar as vulnerabilidades de cada oponente, essencial para o êxito no jogo.

Um visual de contrastes

Apesar de ficar evidente a evolução na jogabilidade de Forspoken conforme o jogador evolui em sua história, não podemos dizer o mesmo da inconsistência em sua apresentação visual e na performance, seja no começo ou no fim do game.

Talvez por oferecer um mundo gigantesco a disposição do jogador para explorar quase quando quiser, porque vai depender da evolução do personagem, a equipe de desenvolvimento tenha enfrentado dificuldade para entregar um visual coeso durante a maior parte do tempo em que o jogador encara o dilema de Frey. É bastante comum o jogador se envolver em belas paisagens durante um passeio em Athia e se deparar com montanhas com texturas horrorosas em um ambiente próximo, mais ou menos como se a equipe de desenvolvimento não tivesse tido o tempo necessário para dar uma polida geral no imenso mapa do jogo.

As animações de personagens fogem a essa regra e são bem consistente, mas não em um modo bom de dizer. No geral elas são fracas do começo ao fim do game, ao ponto de prejudicar a experiência do jogador com expressões feias, irreais e fora do contexto do momento.

A trilha sonora, por sua vez, até que cumpre bem o seu papel, mas também não chega a ser memorável em nenhum momento. Entretanto, diferente das animações que são bem ruins durante todo o game, em nenhum momento o jogador vai se sentir incomodado ao ponto de se sentir prejudicado.

Os controles não decepcionam, salvo em alguns momentos em que o parkour fica “vivo” em ambientes apertados, algo que o jogador logo deve perceber assim que passar por áreas de escadas e becos, por exemplo. Fora esse pormenor, tudo funciona como deveria e sem frustração.

No fim, o que mais deve impressionar é a quantidade de conteúdo que o game oferece, pois o mesmo entrega umas 30 horas de jogo só seguindo a história de Frey. Caso o jogador seja um verdadeiro explorador, a aventura certamente deve passar de umas 100 horas.

Vale a pena?

Enfim, chegamos a parte mais controversa que é definir um valor de entretenimento para Forspoken, o que não é tão fácil, acredite!

No pacote completo da obra, não há muitas dúvidas de que Forspoken é um game que entrega uma aventura divertida, com um combate rápido, original e regado com uma tonelada de conteúdo extra para extasiar o jogador por muitas e muitas horas de gameplay. A questão aqui é que o jogo demanda uma certa dose de sofrimento por parte do jogador até que isso se torne possível.

As primeiras 4 horas de jogo funcionam quase como um teste de resistência, tamanha a falta de ritmo, peso dos controles travados e uma história que, até então, não parece haver a menor possibilidade de se tornar interessante. Mas então – literalmente – a mágica liberta o game e o torna cada vez mais interessante até chegar ao ponto de prender definitivamente o jogador com as mãos no controle.

Logo, a resposta para a pergunta inicial depende do quanto o seu perfil como jogador está disposto a sofrer nas primeiras horas de jogo até que progressivamente o game se torne um entretenimento melhor. De fato, dispensar várias horas em um entretenimento ruim com a esperança de que em algum momento ele se torne aceitável e até bom não é um luxo que uma desenvolvedora pode apostar que seus jogadores farão em um mercado com tanta oferta de entretenimento. Porém, para àqueles que o fizerem, pode ser que Forespoken seja uma grata surpresa, assim como foi para quem vos escreve.

No fim, Forspoken é um jogo que entrega uma boa experiência em sua totalidade, apesar de teimar em aborrecer o jogador no início do seu relacionamento. Não dá para dizer que, mesmo em seu ápice, ele chega no patamar de grandes franquias como Final Fantasy, Dragon Quest e demais, mas ele é repleto de boas ideias que, quando funcionam, tornam a experiência do gamer perseverante válida e viciante.

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