Desenvolvido pelo estúdio polonês Awesome Game Studios, Fury Unleashed é o mais novo desafio disponível nos consoles e PC no estilo roguelike, aquele tipo de game em que o jogador parte rumo à exploração de cenários, destruindo hordas de inimigos em busca de itens que melhorem suas habilidades, mas com o risco de uma morte permanente que o obriga a começar tudo de novo. Contudo, ainda que este estilo já esteja bem estabelecido na cena gamer, Fury Unleashed tem o grande mérito de adaptar várias boas ideias já consagradas para entregar um bom jogo de ação com muita exploração que promete divertir bastante os jogadores.
Nas páginas
A história do jogo narra um momento de crise criativa de um ilustrador de quadrinhos conhecido como John Kowalsky, íntimo do fracasso na sua profissão até então. Em dado momento, ele decide apostar tudo em uma derradeira criação estrelada por um herói nomeado Fury. Será este personagem que o jogador irá controlar na intenção de ajudar o autor a obter o tão almejado sucesso em sua carreira.
Apesar da simplicidade em sua premissa, a história de Fury Unleashed brilha de verdade quando é colocada em conjunto com a mecânica de gameplay do jogo, onde os cenários são contados como uma história em quadrinhos, algo muito similar ao famoso Comix Zone do Mega-Drive, só que mais refinado e recheado de momentos de pura ação e tiroteio.
As aventuras em Fury Unleashed são dispostas em três HQs principais e mais uma de bônus, sendo que cada uma revista representa uma fase com história e tema distintos. Cada HQ é subdivida em quatro páginas, sendo as três primeiras a representação de sub-níveis de cada fase e a última narra o encontro com o chefe final de cada revista.
De HQ em HQ
A primeira HQ, cujo o nome é “Awakening of the Ancient Gods”, ambienta Fury em cenários da Floresta Amazônica. Lá, o protagonista vai penar para derrotar inimigos, subchefes e chefões inspirados em índios e deuses mitológicos que baseiam seus ataques em lanças e magias negras das mais diversas.
A segunda revista, denominada “Operation Crimson Dusk”, conta a história de como Fury combateu a tropa nazista de Hitler. Aqui ele passa a combater soldados munidos de armas com avanços tecnológicos consideráveis, assim como os subchefes e chefes, que agora estão mais para tanques ou aviões de guerra super avançados, incrementando ao máximo o desafio.
Na última revista da série principal, Fury viaja ainda mais para o futuro para combater alguns viajantes malignos de todos os confins do espaço, com o objetivo principal de proteger a terra. Bem diferente das duas primeiras edições, é na revista “Earth’s Last Stand” que Fury vai colocar a prova toda a sua expertise adquirida nas HQs anteriores para combater os mais diversos tipos de aliens e suas mais bizarras e poderosas armas.
Ao vencer todas as revistas e fazer de John Kowalsky um ilustrador de sucesso, o jogador ainda recebe como um bônus o acesso ao seu caderno de rascunhos do jogo. Nele é possível o jogador conferir algumas das ideias que poderiam ter entrado nas revistas do jogo, mas que foram descartadas por algum motivo.
Armas em punho
Para obter o êxito em todas as suas três aventuras, Fury sempre começa uma partida munido apenas com sua pistola de tiros padrão, um facão básico para obliterar os inimigos mais próximos, umas poucas granadas com alto poder de destruição e um poder especial que pode congelar todos os inimigos de um único quadro da revista.
É claro que, como um bom roguelike, cabe ao jogador explorar cada quadro da revista em busca de tesouros que escondem uma grande diversidade de apetrechos que podem elevar a diversão a outro nível. Contudo, além de ter que contar com a sorte devido ao fato de todo o equipamento ser entregue de maneira aleatória, o jogador vai ter que ter um bom conhecimento de todo o armamento disponível para determinar o melhor momento de trocar uma arma já empunhada.
Além das armas, o jogador também conseguirá ter acesso a várias peças de armaduras que melhoram a defesa de Fury, assim como itens que aumentam o dano ou que concedem efeitos elementais à sua arma.
Cada vez de um jeito
Se não bastasse toda essa aleatoriedade para conseguir itens e armas, o jogador ainda vai ter que lidar com a construção procedural dos cenários em cada partida, ou seja, os cenários vão ser construídos aleatoriamente, então cada jogo é uma nova aventura.
Durante a aventura, Fury também enfrentará vários dilemas que cabe ao jogador refletir se vale a pena o investimento. Um exemplo é o vampiro que oferece algumas armas bem poderosas, mas ao preço de uma boa parte do seu sangue, que representa a vida de Fury. Em outros momentos, o próprio Diabo lhe propõe um pacto em que Fury perde alguns atributos, mas ganha outros que podem valer a pena.
A tinta deixada pelos inimigos mortos funciona como um tipo de espólios de combate e ela pode ser dourada, para comprar armas e armaduras do comerciante, ou nanquim, que serve para aumentar o nível de Fury e desbloquear habilidades em sua árvore de evolução para sempre. Contudo, vale ressaltar que tudo o que for adquirido, comprado ou pactuado com o Diabo em um gameplay vai ser perdido no final da vida de Fury e o jogador vai ter que começar uma nova partida do zero.
Tinta na caneta
Se há algo em que a equipe da Awesome Games Studios caprichou, foi na apresentação do game. As animações e peculiaridades de cada cenário transbordam inspiração e transformam o ambiente em uma verdadeira HQ digital.
As particularidades e a distinção de cada cenário nas revistas foram muito bem exploradas, em termos de apresentação e level design, assim como a cultura de cada grupo de inimigos foi respeitada de acordo com sua evolução dentro da história. E o resultado é que a equipe de desenvolvimento entregou de maneira bem crível três aventuras de histórias em quadrinhos bem distintas umas das outras.
A trilha sonora é sempre bem condizendo com os acontecimentos da tela, inclusive com acordes que se modificam conforme a atuação do jogador durante a aventura de Fury, imergindo-o completamente no clima da HQ.
Leitura completa
A dificuldade do game pode ser considerada um problema para alguns gamers menos habilidosos. Talvez porque o jogo é baseado demais na aleatoriedade, tornando a experiência frustrante nos momentos em que o jogador não der sorte o bastante para pegar uma boa arma logo nas primeiras páginas da revista.
Outro fator que pode irritar bastante é a ineficiência dos atributos da árvore de evolução que, na maioria das vezes, não fazem tanta diferença para equilibrar o desafio que já não é dos mais fáceis nos jogos do gênero, e certamente o jogador vai morrer algumas dezenas de vezes antes de concluir a missão por completo.
A boa notícia é que evidentemente Fury Unleashed tem muito mais acertos do que erros e certamente não vai decepcionar os fãs que já estão habituados com o estilo e a dificuldade dos jogos roguelike, além de funcionar como uma ótima porta de entrada para os gamers que topam um desafio acima da média, mas altamente recompensador.