Red Dead Redemption 2 traz o que a Rockstar sabe fazer de melhor: um mundo amplo, explorável e recheado de opções, segredos e experiências únicas. Certamente o grande atrativo do jogo é viver dentro dele, mas a história de Arthur Morgan não te levará a esses lugares.
É bom frisar que um jogo da grandeza de Red Dead Redemption 2 com certeza tem falhas e não basta somar fatores palpáveis para avaliá-lo. Todo meio de entretenimento, e os games fazem parte deste nicho, contém uma grande e única variável: a Experiência.
Achei justo conduzir a análise de Red Dead Redemption 2 em duas vertentes. O grande sandbox com, literalmente, um mundo de possibilidades que merece ser explorado centímetro por centímetro, e a trama principal, que conta a história de Arthur Morgan, Dutch Van der Linde, John Marston – protagonista do primeiro jogo -, e outros que fazem parte da trupe.
Admirável Mundo Velho
É inevitável se encantar com o mundo criado, ou reproduzido, pela Rockstar para Red Dead Redemption 2. O velho oeste sempre atraiu a atenção das pessoas principalmente pelas rivalidades entre bandidos e mocinhos, indígenas e exército. Não a toa é tema de inúmeros filmes e vira e mexe Hollywood resgata a temática.
Ao deixar de lado a história e partir para explorar o mundo, assim que nos é permitido pelo jogo, vemos como tudo funciona em primazia. O lugar é vivo, é surpreendente! Logo no começo tive um encontro com um grande alce, a galhada grande e imponente, se destacando em contraponto da lua subindo ao fundo e, óbvio, tentei matá-lo. Foi minha primeira morte no jogo, mas foi inesquecível!
É esse tipo de coisa que torna RDR2 um primor. São experiências que só serão vividas ali e cada jogador vai ter a sua história pra contar.
Os produtores conduziram o jogo de forma que, gradualmente, mesmo andando livremente pelos 5 estados que formam o mapa, a evolução dos cenários seja notável. A chegada da civilidade é o grande contraponto do jogo, é o que move e motiva os personagens, e é possível admirar e sentir cada novidade que aparece.
Nos créditos finais as quantidades e variedades de nomes presentes mostram que não foram poupados esforços para ter a melhor equipe e o melhor resultado em Red Dead Redemption 2.
Na imagem ao lado, podemos ver desde um clássico americano como Alan O’Brien até Ipsita Sukla Chakrabarti, por exemplo. É listado inclusive um estúdio de desenvolvimento localizado na Índia que trabalhou na produção!
O Cocô do Cavalo
Um mundo aberto encantador não é novidade para a Rockstar e, certamente, seus fãs já acostumados com os caprichos de GTAV. Mas são os detalhes que fazem a diferença em Red Dead Redemption 2. Cada situação foi pensada e levada ao limite.
Dá pra perceber que houve um zelo em retratar coisas do mundo cotidiano. Por exemplo, ao atirar em um container cheio de água, vai vazar líquido e parar gradativamente, primeiro os buracos superiores e depois os inferiores.
O jogo permite experimentar situações da vida real, como ficar bêbado por exemplo. Em várias das festas no acampamento da trupe de Dutch, é possível optar por participar ou ir dormir. Caso fique, ouvirá histórias – fofocas também – que não serão contadas em outras situações ou se preferir sentar em volta da fogueira, as músicas típicas da época serão companhia.
Há também tarefas que podem ou não ser realizadas no acampamento, como cortar lenha, carregar sacos de comida, dar água para os animais. Todas as atitudes tomadas em RDR2, incluindo esses trabalhos, movimentam uma barra de status. Ela indica como Arthur é visto no mundo, indo de malvado a bom moço.
Tudo isso cria o clima de faroeste e dá unidade e sentido ao jogo, mas como muitas outras coisas, não é absolutamente necessário para a história.
A Lenda
A grande sacada da Rockstar foi criar Red Dead Redemption 2 como um prequel do primeiro jogo, mas sem expor isso claramente. Não é de espantar que, em ordem cronológica – ou seja, o 2 primeiro e depois o 1 – as referências do enredo estejam sólidas em Red Dead Redemption.
Obviamente a gangue do Dutch é a maior delas. Antagonista no primeiro jogo, ele é o carismático líder que Arthur Morgan, protagonista de RDR2, segue. O começo da história é o pilar do relacionamento entre os dois.
Todo o capítulo I, uma fuga desesperada pelas montanhas nevadas, funciona como um grande tutorial. A melhor parte é conhecer John Marston, o protagonista do primeiro Red Dead Redemption, e descobrir de onde vem as medonhas cicatrizes no rosto. Neste começo de jogo tudo é linear. Aqui é ensinado como rastrear e esfolar animais, utilizar as armas e funções de combate e até a pilotar a câmera de cinema durante as longas cavalgadas. A liberdade é limitada e não oferece o que se espera de um mundo aberto, mas após menos de duas horas o jogo começa de verdade.
Durante toda a trama são comentados eventos passados em Blackwater, em que Arthur não esteve presente. A grande soma de dinheiro resultante do golpe teve que ficar pra trás devido a contratempos, e a gangue precisa recomeçar do zero.
Depois de estabelecer o acampamento, aflora-se o mundo de Red Dead Redemption 2. Mas quem esperava por ação desenfreada logo, terá que conhecer mais algumas mecânicas do jogo. Pode-se dizer seguramente que RDR2 tem muito mais opções do que precisa. Algumas vão cair no esquecimento, principalmente se a meta for seguir a trama principal. Por exemplo, trocar de roupas ou criar tônicos. Apesar de bastante úteis na sobrevivência, podem ser praticamente ignorados durante a história.
O mais importante ainda no início é entender o sentido da “gangue”. Todo o dinheiro conseguido nas missões é repartido pela metade com o acampamento e depois entre os membros. Há uma caixa para doações que são usadas para melhorar a estrutura do acampamento. É possível comprar um galinheiro, que resultará em uma comida mais nutritiva para os membros, ou melhorar seu quarto, possibilitando viagens rápidas.
Conhecer cada um dos que habitam o acampamento é um mal necessário, ou vai ficar uma sensação de que tem gente demais ali. Os personagens buscam um objetivo simples: ganhar dinheiro para garantir um futuro dos sonhos. E não é isso o que todos queremos? Esse ponto precisa ser compreendido na narrativa. Não tem floreios e fantasias, como em GTAV, por exemplo. A linha principal segue dentro da normalidade da vida. Todos ali vivem seus causos e caminhos, um dia após o outro.
A complexidade do roteiro de Red Dead Redemption 2 só pode ser entendida nos capítulos finais. O jogo é um meio que justifica um fim. A transformação psicológica dos personagens é o grande antagonista, o que reduz logicamente a importância da gangue rival O’Driscoll e da Agencia Nacional de Detetives Pinkerton, um FBI da época, que caça Dutch e sua gangue o tempo todo.
Apesar de os primeiros capítulos serem um pouco monótonos, principalmente na evolução dos personagens, parece que a Rockstar serviu um prato feito. A entrada é só o começo, o principal vem com a liberdade para explorar e curtir o maravilhoso cenário de Red Dead Redemption 2, e já no fim vem a vontade insaciável de entender o enredo e onde tudo aquilo vai levar.
Um Por Todos
O jogo conta com um epílogo um pouco arrastado, com resultado previsível, mas necessário. Um baita serviço para os fãs.
Tudo faz sentido no final. As jornadas, as transformações emocionais, os perfis psicológicos. Arrisco dizer que até a jogabilidade, um pouco mais travada, busca recriar um mundo perfeito e lógico.
O jogo não é livre de críticas. As infindáveis cavalgadas – salvas pela Câmera de Cinema, que nos brinda com paisagens de tirar o fôlego – são as vezes exageradamente longas e as viagens rápidas não aliviam. Porém é necessário entender que faz parte da localização do jogo, já que eram as opções da época. Mas não precisava um NPC dizer que prefere cavalgar em silêncio pelo percurso todo, né?
Alguns encontros aleatórios poderiam ser mais empolgantes, como por exemplo encontrar fósseis ou pinturas rupestres. Outros são, por sua vez, memoráveis – como dos artistas circenses que perderam seus animais. O legal é que tudo tem um resultado, um fim, que poderá ser contemplado posteriormente, se quiser ou não!
Em certos eventos é até possível escolher como agir ou se vai ajudar ou não, e isso terá resultados. É o que faz Red Dead Redemption 2 grandioso. As experiências estão lá e o jogador escolhe como vivê-las. Cada gamer terá uma jornada épica e única!
Nossa análise de Red Dead Redemption 2 só foi possível graças à gentil Ecogames, distribuidora oficial do jogo no Brasil, que cedeu uma cópia para tal. Todas as imagens foram capturadas in-game.