Lançado originalmente no final dos anos noventa no saudoso PlayStation, Legend of Mana se estabeleceu como um clássico instantâneo, marcando uma era de grandes jogos no estilo RPG japonês e se destacando ante uma abastada oferta de jogos no mesmo estilo dispostos no pequeno monstrinho da Sony. Derivado da conhecida série japonesa Seiken Densetsu, esse título não faz parte dos jogos principais e sequenciais da série, que nasceu como um spin off de Final Fantasy. Ele funciona como um capítulo à parte e conta com um charme único, onde a sua grande inovação para a época era a liberdade concedida ao jogador para determinar não só o ritmo da própria história, como também criar o mundo onde as aventuras do herói seriam contadas. Nesta análise de Legend of Mana iremos falar um pouco do jogo original, mas mudanças ocorridas nesta versão e, claro, se vale a pena jogar!
O jogo original
Ainda que a mecânica inovadora de Legend of Mana seja de entregar as rédeas da narrativa para o jogador por meio de encontros com NPCs que ditam o ritmo da história com suas próprias experiências, Legend of Mana mantém a tradição da série principal de situar seu conto em torno da grande árvore de Mana. Nesse título, a história conta que a árvore Mana se incendiou há 900 anos, o que deu início a uma guerra entre os povos que buscavam o que sobrou de mana no mundo do game. Após anos de guerra, as terras do mundo foram armazenadas em artefatos, sendo estes os objetos de procura do personagem escolhido pelo jogador para restaurar as áreas do mundo do jogo e, por fim, a grande árvore Mana que traz todo o equilíbrio para o mundo de Fa’Diel.
No inicio do jogo, o gamer deve escolher entre dois personagens – um menino ou uma menina – que são inseridos no contexto já mencionado, porém sem maiores explicações sobre o seu papel na história. Contudo, conforme o jogador avança no game e usa os tais artefatos para dar inicio na reconstrução do mundo de Fa’Diel, alguns NPCs dão as caras para enriquecer exponencialmente as escassas informações que vão compor a nova história de Mana, conforme as escolhas e necessidades do jogador.
Os combates acontecem quase sempre para atender alguma necessidade de algum NPC e cada batalha se dá no estilo Action RPG, onde o jogador tem o livre controle do herói para vagar no campo de batalha, um botão de ataque forte, outro para ataque fraco, pulo e ataques especiais que podem ser personalizados nos botões de ombro. Para auxiliar o herói existe um sistema de craft de armas e equipamentos, assim como de criação de monstros que podem ser domados e usados em batalha.
O que mudou?
Legend of Mana é um jogo extremamente fiel ao seu homônimo de 1999. Os controles, mecânicas de jogo e de batalha estão todos lá, intactos. Isso inclui os problemas irritantes de imprecisão nas hitboxes e dos controles na realização de alguns combos em batalhas. Por outro lado, a parte visual e sonora recebeu um tratamento de primeiro pela equipe de desenvolvimento encarregada dessa versão remaster, que curiosamente não carrega o adendo Remastered no seu nome.
As ilustrações pre-renderizadas dos cenários estão belíssimas agora em toda a glória da era dos gráficos em HD. Além de mais bonitas, vale ressaltar que toda a apresentação agora é exibida no formato widescreen, uma adição muito bem vinda que elimina aquele aspecto quadrado irritante, característico dos jogos antigos, e as faixas pretas nas laterais da TV. Mas como nem tudo são flores, os personagens e qualquer item interativo ao longo da aventura continua no modelo pixelado, causando um contraste muito grande com a suavidade das ilustrações em alta definição e, por consequência, uma estranheza gritante ao jogar o game.
A parte sonora foi totalmente rearranjada e conta com o melhor do som em alta definição, porém sem perder o charme das canções originais, apesar da introdução de novos arranjos. Contudo, para os jogadores que exigem um material mais próximo do original, é importante ressaltar que existe a opção de desativar as novas trilhas rearranjadas e se deliciar com uma versão melhorada, porém idêntica, das trilhas originais do game de 1999.
Como de praxe nas recentes remasterizações da Square Enix, a opção de desativar as batalhas também aparece em Legend of Mana, o que é um grande adendo visto que o game apresenta batalhas pré programadas para acontecer em locais específicos de cada fase. Isso tornava bem enfadonha a simples tarefa de caçar itens pelo mapa, mas agora é evitável.
Por último, o que mais pode surpreender o jogador é a adição do mini-game Ring Ring Land, outrora restrito a versão japonesa e o desconhecido acessório Pocket Station. Nesse mini-game, o jogador pode treinar os seus monstrinhos ajudantes, ganhar experiência e subir seus níveis para aumentar sua competitividade em combate.
Vale a pena?
Não restam muitas dúvidas de que a oportunidade de jogar um game atualizado, que marcou uma era em um console com a fama de ter os melhores RPGs japoneses parece uma oportunidade imperdível. Contudo, é importante salientar que, talvez, as mudanças implementadas podem não entregar o suficiente para o tipo de jogador que espera um jogo ambientado nas mecânicas dos Actions RPG da atualidade.
Nesta análise de Legend of Mana concluímos que , de fato, as mudanças no título de 2021 se resumem ao aspecto audiovisual. Não que o trabalho não tenha sido satisfatório nesse sentido, muito pelo contrário, o título nunca pareceu tão belo aos nossos olhos quanto nessa versão atualizada do clássico. Entretanto, a mecânica de jogo nos pareceu um tanto datada e truncada para ser plenamente apreciada nos dias de hoje. Logo, podemos concluir que essa remasterização de Legend of Mana vai agradar em cheio os jogadores que prezam por um material mais próximo do original, só que compatível com os consoles e aparelhos de áudio e vídeo atuais. Em contrapartida, quem espera por uma jogabilidade mais acessível e compatível com os modelos de jogos atuais, certamente vai se decepcionar.