Streets of Rage é uma franquia Beat’em up consagrada e considerada por muitos uma das melhores entre um gênero que já foi muito popular nos anos oitenta e noventa, conhecida de maneira geral pelos gamers como jogos de bater e andar. Infelizmente tal gênero não resistiu às evoluções dos videogames, principalmente no que toca a construção dos jogos em três dimensões. Assim, acabou abandonado quase que completamente, apesar de algumas poucas tentativas sem grande sucesso de revivê-lo. É neste ponto, então, que começa a história de renascimento de um clássico por três estúdios independentes e com o aval da detentora dos direitos da franquia: a Sega. E não de qualquer forma, mas da melhor maneira possível temos em mãos Streets of Rage 4.
Na Timeline
Criado para ser uma sequência direta do terceiro jogo da franquia, Streets of Rage 4 acontece dez anos após os eventos do seu predecessor. Nessa época, a cidade de Wood Oak City se encontra em um estado onde a corrupção se adentrou em cada canto da cidade, corrompendo até mesmo as autoridades locais.
Incomodados com a situação, nosso conhecido grupo de heróis resolve voltar a ativa para salvar a cidade na base da porrada mesmo. Para isso, é necessário derrotar os vilões e seus próprios contratantes, os irmãos Y, filhos do infame Senhor X, derrotado no último game da franquia.
Sem muita enrolação e contada apenas com imagens congeladas, como numa história em quadrinhos, essa desculpa para o gamer descer o braço em tudo o que se mexer talvez seja o ponto fraco do game. O trama causa pouco impacto e possivelmente será esquecida completamente assim que o jogo for desligado. Em contrapartida, podemos dizer que todo o restante do game é de tirar o fôlego!
Com um equilíbrio perfeito, faz-se necessário evidenciar que os estúdios Dotemu, Lizardcube e Guard Crush Games realizaram um trabalho muito bem feito e pensado para agradar os saudosistas. Eles entregam uma autêntica sequência do clássico Streets of Rage. Por outro lado não esquecem os novos jogadores, agraciados por um jogo Beat’em Up com divertidíssimo gameplay sem abandonar a essência em duas dimensões que levou a franquia ao estrelato.
Velhos e Novos Amigos
A trupe controlada pelo jogador inicialmente é composta por apenas por quatro heróis, sendo eles o icônico Axel Stone, agora com um visual mais experiente, barbudo e um pouco mais parrudo em relação aos jogos clássicos, e a estonteante Blaze Fielding, agora mais madura e mostrando que o tempo fez muito bem a ela, que está mais sensual do que nunca.
Para representar bem os novatos da franquia, temos a fofíssima e perigosa Cherry Hunter, que como o sobrenome já entrega é a filha do saudoso Adam Hunter. Completando a turma dos estreantes, temos Floyd Iraia, poderosíssimo aliado na luta contra o crime em Wood Oak City com seu corpo cibernético.
Como de praxe na série, cada personagem possui características únicas de gameplay. Axel e Blaze equilibram a força e a velocidade. A Cherry, por sua vez, é a personagem mais focada na velocidade dos seus movimentos e na agilidade dos golpes. Por último, Floyd Iraia, que, munido de braços robóticos é o personagem mais forte e mais lento disponível desde o início do game.
É bastante óbvio que a turma de heróis vai ter bastante ajuda ao longo de sua aventura. Logo ao completar alguns poucos níveis, mais uma conhecida figura icônica se junta a trupe de heróis no combate ao crime do novo Sindicato do Crime dos irmãos Y.
É claro que não vamos estragar a sua surpresa, mas é importante separá-lo dos demais personagens desbloqueáveis por se tratar de um herói que, mesmo sendo liberado no decorrer da aventura, está ali como um personagem principal. Portanto também recebeu novos gráficos e mecânicas de gameplay reformuladas. Entretanto, é importante dizer que os demais personagens desbloqueáveis são versões “originais” dos heróis clássicos da série dos anos noventa, com o mesmo funcionamento e golpes das suas versões originais.
Delícia de jogar
Visando entregar características únicas de gameplay para cada um dos personagens principais, os desenvolvedores dotaram cada um deles com movimentos exclusivos que diferenciam totalmente a sua jogabilidade. Assim como nos jogos clássicos da série é uma aposta certeira para agradar os gamers loucos para descer a porrada nessa deliciosa aventura.
Para usá-los, o jogador tem ao seu alcance comandos simples e funcionais dispostos no controle de maneira muito clara e intuitiva. Com uma resposta excelente dos controles, o jogador vai conseguir, com facilidade, encaixar os golpes e combos poderosos.
Com apenas um botão de pulo, um de soco e outro para realizar golpes especiais, o jogador é sempre estimulado a combinar sequências de golpes que podem devastar toda barra de energia, não dando chance ao seu oponente, a depender do nível em que o jogador pretende se arriscar.
Isso ocorre porque o uso dos golpes especiais, que funcionam como uma excelente ligação entre os combos, drena parte da energia do herói controlado. Mas pode ser recuperada desde que o jogador não seja golpeado nesse meio tempo. Além disso, uma nova mecânica de ligação de combos usando elementos do cenário foi inserida no game. Isso resulta em belas sequencias que atiram o inimigo contra objetos no cenário que podem ser combinadas com mais golpes certeiros no momento adequado.
Todo lindo
Com uma belíssima arte desenhada a mão, não é nenhum exagero afirmar que os gráficos de Streets of Rage 4 estão entre os mais belos e detalhados de jogos em duas dimensões já disponibilizado no mercado.
A aparência reformulada dos personagens principais, embora renovada de maneira que aproveite o poder da atual geração de consoles e em conjunto com a beleza e o level design dos doze níveis disponíveis no jogo, transbordam nostalgia e referência à cultura de videogames e cinematográfica dos anos noventa.
Os cenários compostos com muito neon nas ruas dominadas por gangues e paredes tomadas por pichações no submundo de Wood Oak City fazem de Streets of Rage 4 um jogo que resgata toda a cultura estabelecida ao longo dos três título originais.
É claro que um trabalho tão bem inspirado na parte gráfica não poderia ficar sem uma ótima trilha sonora. Essencial para imergir de vez o jogador no clima do jogo, os produtores de Streets of Rage 4 não poderiam ser mais felizes neste quesito.
Para que as trilhas sonoras fossem uma parte tão marcante, assim como na franquia original, os produtores convidaram ninguém menos que o próprio Yuzo Koshiro, compositor responsável pelos dois primeiros jogos da franquia. Logo, temos músicas sensacionais para curtir nos melhores momentos de pancadaria. Detalhes também para os arranjos que nos relembram as músicas originais, completando o círculo perfeito de nostalgia.
Chamem os amigos!
Dentre os modos de jogo à disposição do jogador, Streets of Rage 4 conta com uma campanha mais amigável e receptível para quem está adentrando na série por agora. Aqui o número de vidas para desafiar cada capítulo do game é estabelecido de acordo com o nível escolhido pelo jogador. Mesmo vencendo o capítulo anterior sem nenhuma vida, no próximo nível o seu número de vidas vai ser restabelecido para o novo desafio. Além do número fixo de vidas, também é possível trocar de personagem a cada tentativa ou entre os capítulos, sem ter que reiniciar o jogo.
Já para os mais “casca-grossa” em jogos Beat’em Up, o clássico modo Arcade também faz parte do pacote. Nele vale a premissa dos jogos do saudoso Mega Drive, com número de vidas determinados no começo, sem continues ou troca de personagens.
Como um extra, ainda existe o Boss Rush, onde o jogador enfrenta chefões consecutivamente paraderrotá-los o mais rápido possível. Por fim, no modo Arena dois jogadores devem digladiar entre si até que só haja um jogador de pé.
Todos esses modos de jogo, por si só, já são bastante eficientes em entreter o jogador por horas em Streets of Rage 4. Contudo a maneira mais divertida de se aproveitar tudo isso é jogando cooperativamente. É possível viver Streets of Rage 4 com até quatro amigos localmente ou como um parceiro por conexão online, tornando a diversão ainda melhor.
Ruas de Amor
Com todos esses predicados, podemos dizer que Streets of Rage 4 é o melhor jogo de “andar e bater” disponível no mercado. Quase tudo no jogo é executado de maneira louvável, salvo a história superficial que só existe mesmo para dar motivo para o começo da pancadaria e pouco interfere na diversão. Contudo, é compensada por um fator replay bem alto proporcionado pelo jogo, dado a sua variação de modos e a quantidade de desbloqueáveis.
O cuidado dos desenvolvedores salta aos olhos em cada detalhe. Dos cenários aos personagens e arranjos musicais, trazendo à tona momentos de arrepiar os fãs mais atentos. Além de emocionar quem só está conhecendo o game agora, tudo regado de muita diversão ao longo de sua aventura. Nunca será suficiente ressaltar a participação de Yuzo Koshiro na trilha sonora, adicionando um fator imensurável ao jogo.
Streets of Rage 4 é, portanto, um game mais que obrigatório para todos os fãs da franquia e também para os demais jogadores em geral. É um jogo que nos faz acreditar nos videogames. Faz-nos sonhar que mais desenvolvedoras nos agraciem com novos jogos incríveis, apostando em beat’em ups, sejam clássicos nostálgicos ou novidades de tirar o fôlego.