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Fallout 76 análise capa

Vazio, Fallout 76 perde a oportunidade de ser épico!

Não se deixe enganar pelo sorriso fácil do bonequinho de Fallout – fantasia que acompanha a Tricentennial Edition, versão mais completa do jogo. Fallout 76 fraqueja em inúmeros quesitos que tornam triste um dos melhores e mais criativos cenários do mundo dos games.

O universo pós-apocalíptico retrô da série Fallout ganhou notoriedade a cada nova edição do game, desde que o primeiro jogo foi lançado, ainda em 1997. A série atingiu seu auge, para muitos dos fãs, em Fallout 3 – New Vegas ou mesmo em Fallout 4, primeiro da franquia para  a atual geração de consoles. Aliás, para comprar este último, um gamer juntou duas mil tampinhas e mandou para a Bethesda, que aceitou como pagamento pelo jogo.

Fallout 76 crachá análise review gamepress
Animação na foto pro crachá

Essa introdução toda é apenas para mostrar que a produtora tinha em mãos um universo com potencial gigantesco para criar aventuras infinitas para os jogadores viverem por muito tempo e que existem fãs ávidos por esta experiência. Mas não é o que acontece em Fallout 76, infelizmente.

Sem Corpo

A primeira impressão que Fallout 76 passa é muito boa, mas ela dura extremamente pouco. São alguns minutos apenas dentro do Vault 76, um abrigo que reuniu notáveis para sobreviver após a catástrofe nuclear. Aqui a diversão é criar o personagem, com um editor robusto, como é característico da série, e ter os primeiros contatos com o ambiente. Afinal, após anos enclausurados, o abrigo é aberto e o mundo está à disposição para ser explorado.

O mapa é localizado na região de West Virgínia e traz pontos turísticos da região, como o Capitólio e a Ponte sobre o Rio New, mas para sentir a ambientação country da região é preciso ligar o rádio no Pip-Boy.

Fallout 76 é um prequel, ou seja, acontece antes de todos os demais jogos da série. Porém os produtores parecem ter se esquecido disto. O jogo é muito raso com tutoriais e em muitos casos é necessário lembrar de como se faziam as coisas em Fallout 4, lançado em 2015, para progredir.

Fallout 76 análise gamepress
Falta capricho nos gráficos

Fallout 4, aliás, parece ser um fantasma que assombra o 76. Comparações são inevitáveis, mas o mais óbvio é a falta de evolução que o novo jogo apresenta. Não que o jogo anterior fosse um primor gráfico e tecnológico, ainda mais passados 3 anos desde o lançamento. Os próprios videogames apresentam padrões muito superiores enquanto Fallout 76 parou no tempo. Até mesmo os consumidores se tornaram muito mais exigentes, inclusive guiados pela indústria com versões “bombadas” dos consoles.

Mundo vazio

Aberta a porta do Vault 76, começam as missões. E não demora muito para entender que você é o garoto do leva e traz. Só que falta vida, razão ou até mesmo um motivo que desse uma dinâmica ao jogo.

Fallout 76 dormir análise gamepress
Dormir é necessário, mas não é legal

Basicamente as missões se resumem a andar pelo mapa, resolver uma questão e seguir adiante. São poucos casos que despertam a curiosidade ou recebem a empatia dos jogadores, principalmente porquê basicamente tudo no jogo é atribuído por robôs, terminais e outras máquinas.

A imersão nas missões dependem muitas vezes de ler textos nos terminais, escutar discos ou mensagens via rádio. O jogo dificulta isto com textos que se sobrepõe aos que já estão na tela, como informações das missões, por exemplo. Os áudios, por vezes, também rodam simultaneamente, e a falta da dublagem, ou até mesmo da legenda, torna muito difícil mergulhar de cabeça nos acontecimentos.

Mas o mais triste do mundo de Fallout 76 é o vazio em que ele se encontra. E não só de outros jogadores, mas de eventos e acontecimentos. Grande parte da jogatina é uma caminhada em que nada acontece, levando a lugares em que não há recompensa alguma pela exploração ou a aglomerados de inimigos.

Construir ou Destruir?

O fantasma do Fallout 4 assombra novamente no modo construção, que foi aclamado e ganhou destaque com edifícios extremamente elaborados.

A ideia da Bethesda era que os jogadores povoassem o mapa com construções, e para isso criou o C.A.M.P., um item portátil que transfere para qualquer terreno as estruturas criadas pelo personagem. Porém aplicar isso na prática é um tormento. Dificilmente é possível achar um terreno que permita exatamente a mesma construção, já que não há uma ferramenta de terraplanagem ou coisa assim.

A busca por materiais para construir as diversas estruturas ficou mais simples, por outro lado, outras necessidades preencheram o tempo do jogador com tarefas cansativas e sem propósito.

Dura existência

A todo momento é necessário fazer alguma coisa fora das missões para “saciar” o personagem. Como é um jogo de sobrevivência, é necessário comer, beber e até dormir.

Fallout 76 roda dos favoritos
Muitos itens para pouco espaço

Só que nada disso é fácil de fazer. O jogo não para, então as vezes é necessário tomar água no meio de uma batalha, e isso acaba se tornando uma tarefa inglória. Mesmo com a roda de favoritos, o jogo não se ajuda ao ter inúmeros itens que podem ser consumidos para resolver o mesmo problema – no caso da sede, temos água fervida, água purificada, água suja, Nuke Cola, Nuke Cherry, entre outros inúmeros itens que, se pro um lado servem para criar variedade no jogo, por outro complicam a agilidade para usá-los.

Apesar de seguir a mesma linha de dinâmica, consumir itens estranhos ou estragados gera consequências. É possível contrair diarreia, por exemplo, que fará o medidor de água esvaziar mais rápido. Ao exagerar na radioatividade, meu personagem se tornou vegetariano, por exemplo. Agora ganho benefícios ao comer plantas e perco atributos por consumir carne.

Sistema S.P.E.C.I.A.L. para subir de levelOutro ponto positivo é o sistema de S.P.E.C.I.A.L., que é a forma que ocorre a evolução do personagem. Os jogadores escolhem em qual categoria preferem ampliar seus pontos e usam cartas para preencher os espaços vagos. É possível combinar cartas iguais e receber benefícios melhores.

Fallout 76 piada
Piadas ruins são boas

É possível ganhar pacotes de cartas sortidas, que sempre são acompanhadas de uma piadinha no melhor estilo tiozão de festa. Um pouco de animação não faz mal, né?

Sobreviva, com amigos

Fallout 76 é um jogo de sobrevivência, e precisa ser entendido como tal, para frustração de quem pretendia viver loucas aventuras em modo solo ou jogando com amigos.

A única maneira de “sobreviver” ao jogo é enfrentando-o com colegas de jogatina. Mas é bom já iniciar com eles, pois apesar de existirem sempre outros jogadores no mapa, dificilmente eles irão querer repetir missões apenas porquê são suas. O contrário também acontece se um jogador de nível inferior tenta acompanhar uma quest com inimigos mais poderosos.

Outra maneira encontrada pela Bethesda para reunir jogadores foi criar eventos. A premissa é ótima, mas peca ao permitir que participem todos os players que estão em determinada área, independente se colaboram para o progresso ou não das tarefas solicitadas. Fica mais ou menos um cada um por si. Se houvesse um sistema de alistamento e reunião para início das missões, a coisa fluiria melhor.

Pior que este texto seria totalmente diferente se dependesse apenas da colaboração dos jogadores. Em uma das primeiras gameplays, um desconhecido se juntou na minha equipe, forneceu suprimentos, armas, e até colaborou com itens para o C.A.M.P..

O problema é justamente a organização da equipe, as missões sem propósito e a falta de objetivos compartilhados.

Bugs e tudo mais

Todo mundo já cansou de ouvir que “é normal encontrar bugs em jogos de mundo aberto”. Realmente existem exemplos bem engraçados e até aceitáveis em alguns casos. Mas não é o que acontece em Fallout 76.

O sistema de combate é totalmente falho. Lutar corpo a corpo é totalmente aleatório, e se optar por combates com armas de fogo, se prepare para o pior. A lista vai desde tiros à queima roupa que não causam dano até projéteis inimigos que atravessam as paredes.

Inimigos bugados são comuns. No pior dos casos, dentro de uma casa, o inimigo não aparecia. Totalmente transparente. Nada mais injusto em um jogo de sobrevivência do que morrer sem saber porquê.

Fallout 76 lojinha
Lojinha vende itens decorativos

E como todo jogo hoje em dia precisa ter um caça-níquel disfarçado, o de Fallout 76 possibilita adquirir com dinheiro in-game ou real uma série de itens desnecessários, que vão desde ícones até objetos decorativos.

Para esta análise, infelizmente não foi possível chegar ao final do jogo. Isso passa longe de ser uma exclusividade, já que pelas estatísticas do Xbox One, console em que foi realizada a análise, nem 50% dos jogadores chegou ao nível 10. Aliás, classificar Fallout 76 como um jogo de sobrevivência é um dos poucos acertos. Difícil resistir neste game.

Fallout 76 foi cedido pela Bethesda para análise, realizada em um Xbox One X. Todas as imagens são capturas dentro do jogo.

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