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Resident Evil 3 traz de volta a ação sem perder a qualidade atual da série

Após alguns anos afastando-se das raízes do survival horror, a série Resident Evil vem se restabelecendo como referência do estilo desde 2017 quando o sétimo jogo numerado chegou aos consoles da atual geração e apresentou ao mundo a Re Engine, nova engine técnica da Capcom que traz um realismo assustador aos games da empresa.

Em 2019, o remake de Resident Evil 2 pegou todos de surpresa ao trazer de volta um clássico com gráficos incríveis e gameplay impecável, sem perder a essência e a atmosfera do jogo original de 1998.

Finalmente, no dia 03 de abril, a Capcom lançou aos consoles e PC uma versão reimaginada de um de seus maiores clássicos, Resident Evil 3: Nemesis (1999), que foi chamado apenas de Resident Evil 3. Além do remake, o game multiplayer Resident Evil Resistance também faz parte do pacote, mas, essa análise focará apenas no conteúdo single player.

*Código para análise cedido pela Capcom

A última fuga

Resident Evil 3 reimagina os momentos finais de Raccoon City onde Jill Valentine, heroína do primeiro game, precisa escapar da cidade infestada de zumbis e outros monstros, enquanto é perseguida por uma ameaça terrível na forma de Nemesis, uma arma bio-orgânica desenvolvida como um aprimoramento do Tirano, que tem como missão destruir os agentes da S.T.A.R.S que permanecem na cidade. Durante a jornada Jill encontra Carlos Oliveira, um mercenário que faz parte da U.B.C.S., uma força especial da Corporação Umbrella, que tem o objetivo de resgatar sobreviventes e auxilia-los a escapar.

Apesar de se manter praticamente fiel a plot do jogo original, o Remake de Resident Evil 3 faz um trabalho excelente ao trabalhar de forma mais detalhada praticamente todos os personagens da história, que tiveram suas personalidades melhor desenvolvidas e alguns até contam com participações maiores na nova versão. Membros da U.B.C.S. como Mikhail e Tyrell e outros rostos conhecidos como Brad Vickers,  tiveram arcos levemente modificados e papeis mais sólidos no desenvolvimento da trama.

A heroína Jill Valentine é trabalhada de forma mais palpável durante o game, pois demonstra emoções genuínas e críveis ao enfrentar o inferno em que se encontra. Já Carlos tem sua personalidade melhor explorada assim como sua relação com os ocorridos e demais personagens, desenvolvem um arco de personagem satisfatório.

A química entre os dois é um dos destaques da narrativa, pois em nenhum momento se mostra forçada e mostra uma relação de interesses em comum, se tornando uma parceria indispensável para que ambos sobrevivam o apocalipse.

Resident Evil 3 também faz um bom trabalho em naturalmente interligar os acontecimentos de Resident Evil 2 a sua narrativa, já que os eventos de RE 3 ocorrem horas antes e depois dos de RE 2 com referências diretas e indiretas, como a participação de personagens ou visitando lugares do game anterior. Além de documentos espalhados pelo mapa que desenvolvem melhor histórias das últimas noites de Raccoon City

Esses documentos não apenas ajudam a “dar liga” nos dois games, mas também são fonte de informação indispensável para aqueles que querem saber mais sobre aquele mundo e personagens, servindo como complemento a história narrada no game.

Apesar da evolução narrativa, Resident Evil 3 sofre com o ritmo em que sua história é apresentada. Algumas das passagens são tão rápidas que parecem que foram desnecessariamente corridas e poderiam ser exploradas por mais tempo. O problema de ritmo também se estende a outros aspectos do game, que serão discutidos em breve.

Assustadoramente incrível

Resident Evil 7, Resident Evil 2 Remake e Devil May Cry V já haviam provado ao público que a Capcom não está de brincadeira com sua Re Engine. Resident Evil 3 talvez seja ainda mais impressionante visualmente que os jogos anteriores, com o realismo em seus personagens e locações ou o quão assustador as criaturas estão. Além dos gráficos incríveis, a iluminação faz com que Raccoon City seja atmosférica e assustadora, reimaginando a cidade clássica de maneira impecável.

Quando comparada a delegacia do jogo anterior, Raccoon City não foi refeita de maneira idêntica ao jogo original. As ruas da cidade seguem layouts próprios e cheia de referências a Resident Evil 3: Nemesis com prédios e locações icônicas.

Mas talvez alguns dos detalhes mais divertidos sejam as diversas referências a outros jogos da Capcom. São placas, lojas, brinquedos, pôsteres entre outras homenagens diretas ou indiretas aos clássicos da empresa como Street Fighter, Darkstalkers, Mega Man e alguns ainda mais antigos como 1942 e Commando.

Assim como no jogo anterior, a atmosfera de terror e mistério é reforçada pelos efeitos sonoros. Os sons da cidade, como passos, gritos, sirenes, entre outros, amplificam a sensação de perigo eminente que são fortalecidas por uma trilha sonora impecável. A equipe de dublagem também fez um trabalho excelente dando uma nova vida aos personagens, capturando perfeitamente a personalidade e os redesignes de cada um.

Atirando, correndo e esquivando

Resident Evil 3 traz de volta grande parte do gameplay do remake anterior, com algumas pequenas mudanças e novidades, que fazem com que ele seja mais fluído. Mudança necessária, já que o game é estruturado mais para o lado de ação do que ao survival horror como seu antecessor.

A principal novidade é a adição de uma esquiva, mecânica que estava no jogo original, porém, era complicada de ser executada. Agora, ao pressionar um botão, o jogador pode se esquivar dos inimigos. A habilidade pode ser usada três vezes seguidas, antes do personagem se cansar e se executada no exato momento que o ataque do inimigo, ela se torna uma esquiva perfeita, que basicamente para o tempo por alguns segundos, facilitando atirar em pontos fracos ou se afastar do perigo.

No papel, a esquiva parece facilitar demais a jogatina, mas exige treino para que seja executada de maneira consistente. É necessário timing específico para cada ataque de cada inimigo para que Jill não seja atingida. Durante as primeiras horas, antes de me acostumar com o a esquiva (e ainda assim ser atingido eventualmente por conta dos meus erros), procurava utilizá-la mais para me posicionar no mapa, ou me afastar de grandes grupos de zumbis.

Além de suas armas, Jill também pode utilizar objetos espalhados pelo mapa para atingir as hordas de zumbis. Barris vermelhos, ao serem atingidos, explodem os monstros, assim como geradores de energia os paralisam, dando um grau de estratégia ao jogador, que precisa decidir a melhor forma de utilizá-los.

Algumas mudanças significativas foram feitas em relação ao jogo anterior, como a remoção das armas secundárias para se soltar de inimigos. Agora a faca é uma arma ilimitada e pode ser utilizada para confirmar mortes, mudando a dinâmica em relação a RE 2, onde era necessário racionar o uso da arma. Granadas também passam a ser armas primárias e ocupam um espaço nos atalhos, mas, podem ser utilizadas diretamente do inventário.

Itens encontrados agora acionam um menu explicativo apenas na primeira vez que coletados, não quebrando o ritmo do jogo toda vez que munição ou algo simples é encontrado no mapa.

Os itens de vida também receberam mudanças significativas, sendo a principal a retirada das ervas azuis. Agora, as misturas entre as ervas verdes e vermelhas são exclusivamente focadas em quanto de energia o personagem irá recuperar, excluindo a proteção que podia ser criada com misturas específicas no jogo anterior.

Mais ação, menos horror

Quando lançado em 1999, Resident Evil 3: Nemesis causou estranhamento por se afastar do survival horror que a série vinha aperfeiçoando até aquele momento, e focar mais na ação e o combate, colocando o jogador contra legiões de zumbis ao mesmo tempo na tela, e dividiu  opiniões.

O remake segue o mesmo caminho do original, potencializando ainda mais o foco na ação, aproximando-se, de certo modo, à jogos como Resident Evil 5 e 6, com segmentos cinematográficos e momentos de combate intenso, dando um espaço muito menor ao clima claustrofóbico e de suspense de Resident Evil 2.

Mesmo com essas mudanças, Resident Evil 3 ainda demonstra algumas das forças do jogo anterior como ambientação e a forma que coloca seus monstros contra o jogador. Porém, por conta do ritmo acelerado já discutido anteriormente, a ação pode ser cansativa por ter poucos momentos de pausa. Os puzzles do game original também foram quase todos cortados, afastando-se ainda mais das raízes de horror da série. Esses problemas não seriam tão graves se o game compensasse o jogador de alguma forma com outros elementos, mas infelizmente isso não ocorre.

No jogo anterior o jogador era obrigado a navegar por cenários grandes e complexos, procurando por itens e resolvendo quebra cabeças, indo e voltando com o objetivo de completá-los até estar totalmente pronto para a próxima parte do jogo. Era necessário o planejamento de recursos e visualizar o melhor caminho para que a jornada não o levasse a situações de perigo e a possíveis mortes. Já em Resident Evil 3, como o game é estruturado em pequenas porções de mapa que se estendem por poucos minutos e depois nunca mais são exploradas, o jogador não precisa se preocupar em economizar, já que sempre é dada quantidade suficiente de recursos para aquele momento específico, fato que pode decepcionar os fãs de survival horror.

Outro problema fica por conta dos momentos mais “cinematográficos”, que cobrem acontecimentos interessantes que poderiam muito bem ser jogados ou enfrentados pelo jogador e aumentaria o tempo da jogatina.

Mesmo que seja uma estrutura comum entre jogos de ação, quando comparamos com as raízes ou outros jogos da série, o sentimento de que a experiência poderia ser maior permeia, e poderia ser evitado se algumas passagens fossem mais aproveitadas, como por exemplo o segmento em que estamos na cidade e podemos explorá-la por algum tempo. É um ótimo momento, cheio de surpresas e encontros interessantes, mas pouco. 

É uma pena que esses pontos, somados com o ritmo do jogo, possam ser um problema grande para fãs dos jogos anteriores, pois Resident Evil 3 como jogo de ação é uma experiência exemplar, e por mais que não tenha como foco o horror, não deixa de ter algumas surpresas. O segmento do hospital, em que jogamos com Carlos, talvez seja um dos melhores momentos do game, pois traz o equilíbrio perfeito entre ação frenética e survival horror, obrigando o jogador a combater hordas e mais hordas de inimigos, mas ao mesmo tempo preocupando-se com munição e itens de vida. Infelizmente não podemos falar o mesmo do final desse cenário, que traz um dos piores momentos do jogo.

Zumbis, Hunters e Nemesis!

Não foram só os personagens que foram repaginados. Os monstros clássicos de Resident Evil 3: Nemesis também voltaram com novidades, principalmente nosso stalker da S.T.A.R.S favorito.

Os zumbis, mesmo que visualmente continuem iguais aos de Resident Evil 2 agora aparecem em maiores números e precisam de menos golpes para ser derrotados. Mas, apesar da maior quantidade, eles não são uma ameaça tão grande como no game anterior. Com mapas mais abertos os mortos-vivos se limitam a alguns espaços determinados, sendo barrados por portas ou até paredes invisíveis.

Por menor que pareçam essas mudanças, restringir o alcance dos inimigos quebra um pouco da necessidade de estratégia, como por exemplo desmembrar zumbis para que não sigam o jogador para outras partes do mapa. Isso não é exclusivo dos mortos vivos, os demais monstros também tem áreas de ação determinadas.

Ainda assim, cada encontro com uma criatura inédita é acompanhada de tensão e preocupação. “Como vou enfrentar esse inimigo?”, “qual é a melhor arma?”, “quantos será que vou precisar enfrentar?”, além é claro de todos os monstros serem visualmente impressionantes graças à Re Engine.

Infelizmente, por melhores que esses monstros sejam, a estrutura do jogo não permite que todos tenham tempo o suficiente para brilhar, sendo utilizados algumas vezes apenas em segmentos específicos.

Nemesis finalmente está de volta à série com novo visual e novos brinquedos para transformar o inferno que é a vida de Jill Valentine em algo ainda pior. Assim como no jogo original, o monstro tem a função de perseguir a heroína como sua sombra e impedir que ela avance pelas ruas de Raccoon City, atacando-a de toda maneira que puder. Infelizmente, esses momentos apesar de divertidos, como outros aspectos do jogo, são breves.

Em sua primeira aparição após a introdução do game, Nemesis tem uma função similar a Mr. X: impedir que o jogador percorra uma determinada área com tranquilidade. Nemesis irá perseguir, socar, empurrar, saltar, puxar com tentáculos e fazer tudo que está em seu alcance para que a jogatina fique mais complicada. É possível escolher a melhor maneira de enfrentar a situação, seja traçando rotas seguras, derrotando os inimigos antes que o monstro apareça, ou enfrentando o grandão cara-a-cara, derrubando-o por alguns segundos e, de quebra, recebendo itens especiais pela sua vitória.

Porém, após esse encontro, as aparições do monstro se tornam limitadas, cumprindo apenas um papel de chefão e não de perseguidor, limitando a participação de quem teoricamente deveria ser a estrela do jogo.

Para se desafiar ainda mais!

O game não tem múltiplas campanhas como o anterior ou diferentes rotas como o original para incentivar outras runs pelas diferenças na narrativa. Em vez disso, duas dificuldades extras são adicionadas após finalizar o game no modo hardcore, que são mais desafiadoras por aumentarem o número e a dificuldade dos inimigos e mudar a posição de alguns itens.

Ao finalizar o jogo pela primeira vez, uma loja é disponibilizada no menu, permitindo ao jogador adquirir armas e power ups especiais com pontos acumulados em sua jogatina, mudando diretamente o gameplay nas partidas seguintes.

Mudando os ares

Resident Evil 3 se afasta quase que completamente do survival horror que a série voltou a fortalecer em suas duas últimas entradas. No lugar, traz um game de ação competente, com momentos cinematográficos de tirar o fôlego e uma narrativa ainda mais aprofundada, além de desenvolver melhor seus personagens e o mundo. Tudo isso pode assustar alguns fãs que esperavam a mesma experiência dos dois últimos jogos da franquia, o que é um erro, já que o título está longe de ser ruim, e sim diferente.

O game já está disponível para Playstation 4, Xbox One e PC. Ao comprar o jogo, o consumidor também adquire Resident Evil Resistance, que em breve receberá sua própria análise aqui no site.

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